O Chocalheiro de Bemposta, os Caretos de Vale de Porco, Os Velhos em Bruçó, o Farandulo de Tó (Mogadouro), o Carocho de Constantim, ou o “Bielho e la Galdrapa” em São Pedro da Silva (Mirando do Douro) fazem parte de alguns dos rituais associados ao Solstício de Inverno.
Os rituais ancestrais do Planalto Mirandês associados ao Solstício de Inverno não vão ser realizados ou vão ser de forma “condicionada” devido à pandemia da covid-19, de acordo com uma reportagem da Lusa. Isto representa uma situação “inédita” na história destas tradições tão antigas e singulares.
O Planalto Mirandês, mas em geral em todo o território transmontano, esta altura do ano é vivida e sentida com muita força, num período em que saem à rua muitos mascarados.
Alguns dos mascarados são: O Chocalheiro de Bemposta, Os Caretos de Vale do Porco, os Velhos em Bruçó, o Farandulo de Tó (Mogadouro), o Carocho de Constantim, ou o “Bielho e la Galdrapa” em São Pedro da Silva (Miranda do Douro).
Armando Silva, membro da Fábrica da Igreja de Bemposta, referiu à Lusa que o Chocalheiro vai sair à rua, mas não vai haver interação da população com os mascarados, o que de certa forma entristece a festa.
Nos locais públicos de Bemposta foi colocado um edital para lembrar as pessoas para cumprirem com as medidas sanitárias durante a festa. “Eu não me lembro de ouvir dizer que alguma vez a tradição do Chocalheiro tenha sido interrompida ao longo dos seus muitos anos, talvez centenas”, disse Armando Silva.
O Chocalheiro “manso” sai no dia 26 de dezembro, dia de Santo Estêvão, e no dia 1 de janeiro sai o Chocalheiro “bravo”. Ambos acompanhados pela mordomia para realizar o peditório.
Por sua vez, Noémia Fernandes, uma das zeladoras das figuras Velhos de Bruçó, no concelho do Mogadouro, informou que a iniciativa vai decorrer de forma simbólica. “Estamos a pensar em não realizar a festa nos moldes tradicionais. Os tempos que vivemos assim o exigem. Estas figuras têm normalmente a liberdade para entrar em todas as casas da aldeia, só que agora, com as novas regras sanitárias, isso não é possível. Há uma certa tristeza em não se poder cumprir esta tradição que é tão antiga e alegre”, apontou a zeladora.
O Presidente da Junta de Tó, António Marcos, terra do Farandulo, também confirmou que a tradição este ano não se vai realizar. “Os mordomos já me informaram que não haverá a festa do Santo Menino. Vamos cumprir e esta é a primeira vez que não se faz. Há alguma mágoa na freguesia”, afirmou.
António Tiza, presidente da Academia da Máscara Ibérica, disse que “estes rituais de solstício de inverno são manifestações populares, onde se juntam o sagrado e o profano, as duas principais componentes destes atos festivos surgem de forma muito «sui generis». São rituais diferenciados de aldeia para aldeia”.
De acordo o António Tiza, estes rituais envolvem figuras “demoníacas e pantomineiras mascaradas” e encarnam ritos de “fecundidade e abundância”.