Em entrevista ao P3, a fotógrafa franco-portuguesa Silvy Crespo, filha de um natural de Montalegre e autora do projeto fotográfico de cariz documental The Land of the Elephants, não tem dúvidas: “As promessas do passado são as mentiras do presente: criação de emprego e crescimento económico.”
A fotógrafa considera que existe, no passado mineiro da região, uma ferida ainda por sarar que não permite que uma nova se abra, com vários projetos mineiros previstos para a região.
Promessas de riqueza e emprego, chegaram a Montalegre, associadas à exploração mineira, com a mina de volfrâmio da Borralha, na freguesia de Salto, fundada em 1902 e desativada em 1986.
O projeto fotográfico de cariz documental (e “não jornalístico”, sublinha a autora ao P3) The Land of the Elephants, foi iniciado em Junho de 2019. “As promessas do passado são as mentiras do presente: criação de emprego e crescimento económico. Mas quem poderia deixar de ler o sermão inscrito nas rochas do Barroso?”
A narrativa da exploração do lítio promete revolucionar a região do Barroso, em Trás-os-Montes, mas a extração é encarada pelas populações e associações dos concelhos de Boticas e Montalegre como uma ameaça à qualidade de vida e ao equilíbrio ambiental de um território classificado em abril de 2018, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, como património agrícola mundial.
Silvy Crespo contactou com habitantes e associações de Boticas e Montalegre que se opõem veementemente à exploração de lítio. “A maioria das pessoas com quem falei expressa uma recusa em ver destruído o património natural da região”, contou ao P3. “São pessoas que vivem em harmonia com o meio ambiente e desejam manter o seu estilo de vida; estão cientes dos impactos negativos de uma mina [a céu aberto] nos ecossistemas – para a qualidade do ar e da água – [e das implicações negativas] para pessoas e animais.”
À ameaça da exploração de lítio soma-se a reabertura da mina de volfrâmio da Borralha. A 28 de Outubro de 2021 foi assinado contrato de exploração de volfrâmio na Borralha, mesmo contra a vontade dos mais de 1370 subscritores da petição que apelam ao seu cancelamento.