2020 foi um ano em tudo diferente, mas que acabou por demonstrar o quanto tudo não pode ficar igual. A pandemia desnudou as fragilidades estruturais de setores tão basilares a uma sociedade justa e democrática como os cuidados ou a saúde. Embora nunca devessem ter abandonado tal estatuto, em 2020 estas áreas tornaram-se gritantemente prioritárias.
A importância de um SNS forte tornou inquestionável
Num ano em que a importância de serviços públicos de saúde fortes se tornou inquestionável, continuam os exemplos de alguns problemas que resultam da falta de investimento de que o SNS tem sido alvo. É preciso investimento que dê condições ao SNS para responder às necessidades da população.
Um dos exemplos é o Departamento de Psiquiatria do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, onde, em outubro, o Bastonário da Ordem dos Médicos se deparou com “pragas”, como ratos e serpentes, mas o problema não é novo. Já em Janeiro, o Governo havia tomado conhecimento da falta de condições do serviço de psiquiatria de Viseu através de uma pergunta do Bloco de Esquerda.
Um outro exemplo é o Hospital da Guarda, que enfrenta inúmeras dificuldades, nomeadamente de recursos humanos e do edificado. Em outubro foi aprovado um projeto de resolução do Bloco de Esquerda para a requalificação do pavilhão 5 e do Pavilhão Dona Amélia. Mas os problemas não se esgotam aí e o Hospital está neste momento sem cirurgia oftalmológica.
Referimos ainda um terceiro exemplo, que tem mobilizado a população local e o movimento cívico Mangual em Movimento. Em plena pandemia, o SAP de Mangualde continua com horário reduzido desde março. Em Novembro, Marisa Matias, candidata à Presidência da República, esteve no local com a população.
É necessário um novo modelo para os Cuidados
Mas mesmo antes da chegada do SARS-CoV-2 a Portugal, em fevereiro surgiram notícias que denotavam que algo poderia não estar bem com o setor dos cuidados. Maus tratos num lar de idosos em Valpaços desencadeou então uma vigília contra os maus tratos a idosos.
No mês seguinte, a chegada da pandemia a Portugal revelaria todas as fragilidades do setor dos cuidados. A situação foi debatida em abril entre Marisa Matias, candidata à Presidência da República, José Soeiro e Maria dos Anjos Catapirra. Em maio, a forma como protegemos e cuidamos de quem tem mais de 60 anos era questionada – Júlio Machado Vaz defendia que a “noção de que os mais velhos são um grupo homogéneo é injusta e perigosa”.
Apesar da discussão que tem existido sobre o tema, a que ninguém fica indiferente, em dezembro, a crise do setor continua: surtos de covid-19 em lares, centros de dia encerrados desde março e cuidadores informais sem apoios, são cenários comuns. Um novo modelo de cuidados continua a ser necessário.