A associação ambientalista afirma que metade dos fertilizantes podem gerar poluição na água e no solo e sublinha que essa situação se pode agravar com a agricultura intensiva (“industrialização” da agricultura nacional). Artigo publicado em Esquerda.net
Em comunicado, a Zero aponta que “as quantidades de azoto e fósforo são quase o dobro do que é extraído pelas culturas”, de acordo com análise do Instituto Nacional de Estatística (INE), 2015-2019.
O excedente destes nutrientes poderá continuar a ser uma fonte de poluição para a água e o solo, refere a associação, que avisa ainda que a “especialização dos sistemas agrícolas através de um modelo do tipo industrial”, intensifica a pecuária e a dependência de fertilizantes, “desligando as produções animal e vegetal do ciclo de nutrientes e gerando dependência de matérias-primas não renováveis, como é o caso do fósforo mineral”.
A associação ambiental aponta também para a existência de perdas significativas de nutrientes na agricultura em Portugal, sublinhando que entre 2015 e 2019, “a quantidade de azoto incorporado no solo é quase o dobro do que é removido pelas culturas” e que, para o fósforo, a situação é semelhante, sendo que 48% do fósforo aplicado é excedente.
“A elevada mobilidade do azoto no solo possibilita o seu fácil arrastamento para meios hídricos, tanto superficiais como subterrâneos, causando poluição”, destaca o comunicado, sublinhando que a poluição por nitratos se tem mostrado “um problema persistente, sobretudo para os aquíferos afetados”. “A aplicação excessiva de fertilizantes azotados está também associada a emissões de amoníaco e óxido nitroso (um gás com efeito estufa 298 vezes superior ao CO2)”, acrescenta ainda a associação.
Em relação ao fósforo, o comunicado assinala que é um problema até antes do seu uso, uma vez que provém de um recurso não renovável (rocha fosfática), que gera poluentes no processamento e cujas reservas são controladas por cinco países, o que o torna vulnerável a quebras de abastecimento e a aumentos de preço.
Na aplicação na agricultura as perdas de fósforo para massas de água doce duplicaram no último século e podem gerar eutrofização, com o consequente aumento das emissões de metano para a atmosfera.
A Zero salienta ainda que a agricultura nacional tem dificuldades no ciclo de nutrientes, pois “a produção vegetal está cada vez mais dependente de fertilizantes de síntese” (“em 2019 aplicava-se estrume em apenas 5,1% da superfície agrícola utilizada”, e , por outro lado” os Efluentes Pecuários (EP) gerados pela intensificação agropecuária (90% dos EP da suinicultura e 74% dos EP da bovinicultura provêm de sistemas intensivos) continuam a gerar pressões elevadas sobre as massas de água”. E alerta ainda que grande parte dos resíduos orgânicos domésticos vão para aterro. “Em 2017, a ZERO estimou que seriam desperdiçados cerca de 100 milhões de euros por ano em nutrientes que poderiam ser devolvidos aos sistemas agrícolas”, sublinha o documento.
A concluir, a Zero afirma que “Portugal numa posição privilegiada para religar a agricultura ao ciclo de nutrientes”, sublinhando que “o baixo uso relativo de fertilizantes minerais e a valorização dos sistemas agrossilvopastoris colocam Portugal numa situação propícia à modernização sustentável da produção alimentar”.
Para a associação, esta situação “implica uma política pública coerente e consistente que procure a eliminação progressiva dos riscos do excesso de nutrientes e da dependência de fertilizantes minerais”.
“Esta lógica de intervenção deve estar vertida nos instrumentos de apoio financeiro à agricultura e desenvolvimento rural, nomeadamente o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, eliminando os apoios para a industrialização da agricultura e do espaço rural”, conclui o comunicado.