Milnorte. Porquê, e porque não?

Tivemos recentemente, por parte do atual executivo do município do Peso da Régua e candidato às autárquicas 2021 pelo PSD, uma apresentação pública de intenção de apoio a um empreendimento privado na antiga fábrica da Milnorte na zona da barragem de Bagaúste que, segundo os mesmos, investe 60 milhões de euros num complexo turístico de excelência. Investimento esse direcionado para o turismo de luxo, argumentando o município que será criador de emprego e que será benéfico para a economia da região.

Pois bem, nós no Bloco de Esquerda também partilhamos da ideia de requalificação do espaço mas não nos moldes em que está atualmente a ser apresentada.

Desconstruindo a atual proposta.

Vamos a fatos, o espaço da antiga “Milnorte” está inserido num lote de terreno localizado em território protegido pela UNESCO, com acesso privilegiado ao rio pois assume posição geográfica a montante da albufeira de Bagaúste estando portanto fora de zona de cota de cheias, sendo portanto um local único, de características distintas e com potencial de grande aproveitamento público na nossa região.

No concelho não existe também alternativa viável com acesso fluvial tratado para usufruir do rio no Verão por exemplo, nem para locais nem para turistas. O concelho é banhado e benefícia da presença da maior bacia hidrográfica do Rio Douro e devia privilegiar atividades e modalidades desportivas náuticas entre as quais as olímpicas por exemplo. Em relação ao caravanismo e campismo a nossa oferta é escassa, quase inexistente e sem condições nem infraestruturas para albergar tanta procura.

O emprego e desenvolvimento local que o atual executivo do município argumenta é claramente dúbio, primeiramente porque ao que apuramos que a média atual de funcionários com origens locais a trabalhar no setor hoteleiro da região é baixa, sendo a grande maioria desses mesmos contratos a termo, de curta duração e até sazonais, o que nos leva a questionar se é este o tipo de emprego precário que o município pretende fomentar para argumentar a necessidade do dito empreendimento nos moldes atuais. Depois temos a questão do desenvolvimento local, ora o modelo tipo do empreendimento apoiado pelo executivo PSD é um modelo setorial, de nicho, cujo complexo existe equipado para proporcionar um conjunto de experiências que retiram a necessidade e até o tempo para os supostos turistas irem para as ruas da cidade onde possam contribuir directamente com a compra de produtos e serviços locais. Irá inclusive rivalizar com a atual oferta de alojamento local detida em maioria por empresários locais, seja este em regime urbano ou rural, e que não beneficiaria desta forma o tecido comercial local retirando inclusive turistas do centro do concelho prejudicando os comerciantes.

A nossa visão

Voltando um pouco atrás, conforme já mencionado, este empreendimento privado pretende dotar a unidade hoteleira de uma marina, equipamento este que na prática restringirá o acesso público ao rio naquele local, que como já mencionado, apresenta-se como a única alternativa com potencial de interesse e utilidade pública no nosso concelho com estas características.

A nossa visão vai portanto no sentido de requalificar aquele local com um projeto de usufruto público com complexo desportivo e náutico, praia fluvial, infraestruturas de apoio como: balneários, restauração e outro tipo de atividades comerciais e lúdicas, parque de campismo e caravanismo com todas as condições para receber quem nos visita, zonas verdes e de refeições, lazer e manutenção física, marina e pontos de acesso ao rio para embarcações, e reabilitação do apeadeiro ferroviário de Bagaúste para que funcione como oferta de transporte económica e funcional com o complexo a distar do centro da cidade em aproximadamente 4 minutos de comboio.

Estas são, a nosso ver, soluções realistas para necessidades reais, que iriam criar oportunidades também estas reais para os locais desenvolverem os seus negócios, criar oportunidades de emprego através das várias infraestruturas ali instaladas, proporcionar melhores condições turísticas para receber de forma mais organizada quem nos visita, e valorizar a região com um projecto que serviria a população de todo o concelho e que contribuiria para o aumento da qualidade de vida local, resolvendo de uma só vez várias necessidades sociais, culturais, desportivas e económicas.

Porquê proporcionar e reservar para privados endinheirados aquilo que nós locais tanto necessitamos? E porque não, redirecionar a visão e o projeto para um investimento que privilegie o usufruto, resolução de necessidades e a criação de oportunidades para a sociedade e economia local? É por todas as razões já enunciadas e mais algumas que pretendemos uma reformulação da intenção de aceitação do empreendimento apresentado nos atuais moldes.

Porque mudar o presente é moldar o futuro! Vota Douro! Vota Bloco de Esquerda!

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Nasceu e cresceu em Peso da Régua, frequentado depois o curso de Linguas e Relações Empresariais na Universidade do Minho. Desenvolve o seu trabalho em empresa familiar onde gere a área administrativa e comercial. É candidato à Junta de Freguesia de Peso da Régua e Godim.

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