Em Março de 2019, 1.6 milhões de estudantes de 125 países em mais de 2000 cidades marcharam para exigir acções urgentes e decisivas contra a crise climática.
Alterações climáticas estão a acelerar muito para além do que se previa há 10 anos, e estamos a permitir que ganhem a corrida. Esforços internacionais, nacionais e regionais estão a decorrer desde os anos 90. No entanto, o caminho que traçamos neste momento para reduzir emissões, apesar dos compromissos do Acordo de Paris, está completamente descontrolado. O nível de esforço tem de aumentar em cinco vezes para mantermos o aquecimento abaixo dos 1.5°C. Pior, é que já nos encontramos 1°C acima dos níveis pré-industriais, e a caminho de um mundo mais quente, provavelmente 3ºC acima, no decorrer da vida da maior parte das nossas crianças: e muito para além do que é considerado seguro.
As alterações climáticas já não são uma ameaça iminente. São uma crise existencial, cujo impacto já estamos a sentir, desde as secas extremas nas Honduras, fogos destrutivos na Califórnia e em Portugal, e os corais em degradação na Austrália, até aos tufões de crescente intensidade nas Filipinas e ilhas do Pacífico, ondas de calor históricas no Japão e na Austrália, e as inundações trágicas recentes em Moçambique. A Organização das Nações Unidas conta que o aquecimento global gere 250 milhões a um milhar de milhão de refugiados climáticos em todo o mundo durante os próximos 50 anos. Ou seja, todos os 5 anos 20 milhões de pessoas podem perder a sua casa se não pararmos a mudança do clima depressa.
O movimento climático estudantil global está a fazer a parte mais difícil: levantar-se contra a inércia do sistema actual para proteger não apenas o seu futuro, mas o nosso também! As nossas crianças ofereceram-nos a energia de impulsão. É agora nossa obrigação moral dar-lhe resposta.
Nós pais, avós, cuidadores e todos aqueles que se importam com a próxima geração, estamos ao lado das, e com as, nossas crianças! Estamos ao lado da comunidade científica, cuja avaliação de impactos climáticos futuros observados e projectados ditam uma acção imediata. É por essa razão que exigimos políticas urgentes e muito mais ambiciosas, bem como medidas em linha com um futuro abaixo dos 1.5°C de aquecimento. É por essa razão que exigimos que o Acordo de Paris e o relatório especial do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre o Aquecimento Global de 1.5°C seja seguido. Isto significa não apenas que teremos de reduzir as nossas emissões globais a zero, mas também que essas reduções têm de acontecer tão depressa quanto possível. Devem também ser assumidas por países numa base de equidade.
As nossas crianças conquistaram e mobilizaram corajosamente a consciencialização e a opinião pública global a níveis sem precedência.
Queiramo-lo ou não, juntos somos as últimas gerações que podem empreender o desafio de estabilizar o nosso clima e evitar alterações climáticas catastróficas.
O momento está a desenvolver-se. No entanto, apenas vai continuar se o fomentarmos com as nossas acções. Apoiar os e as estudantes na sua greve climática estudantil global é o primeiro passo.
Como mães, pais, avós e avôs atentos, cabe-nos agora liderar e actuar com determinação para garantir a segurança do seu futuro.
Como cidadãs e cidadãos, cabe-nos dar às suas vozes o poder dos nossos votos.
Como consumidores, cabe-nos tomar decisões responsáveis sobre despesas que priorizam o ambiente.
As alterações climáticas não vão simplesmente desaparecer se recusarmos olhar para elas ou se continuarmos a negá-las. O clima apenas vai estabilizar se apoiarmos, defendermos e por fim votarmos por políticas e candidatos em linha com o objectivo dos 1.5°C. A catástrofe climática pode ser prevenida se educarmos, inspirarmos e capacitarmos mais de nós a agir. Nós conseguiremos ser bem sucedidos se nos organizarmos e mobilizarmos a todos os níveis da sociedade.
Pais e mães! Nós estamos por todo o lado na sociedade: nas salas de aulas como professores, nos campos como agricultores, nas fábricas como trabalhadores, nos hospitais como cuidadores, nas salas de reunião como chefes executivos, nas legislaturas como políticos… Temos o poder de construir este futuro seguro, justo e sustentável para as nossas crianças e para nós todos.
A contenção das alterações climáticas induzidas pelos humanos tem de tornar-se a maior conquista deste século. Juntos, estamos prontos a agir!
(Carta “Global Letter from Parents Demanding Action” subscrita e traduzida por Parents For Future Portugal a 6 de Maio 2019)
Nasceu em Viseu, em 74. Professora na Escola Pública, de norte a sul do país, sempre no interior. Mestre em Anglística com tese sobre a Utopia na Literatura e na Cultura. É delegada sindical da Fenprof. Activista do Núcleo de Viseu da ONG Olho Vivo – Associação para a Defesa do Património, Ambiente e Direitos Humanos. Activista da AZU (Ambiente em Zonas Uraníferas - Associação Ambiental). Activista na Plataforma Já Marchavas. Nesta legislatura, é deputada municipal do BE, na Assembleia Municipal de Viseu. Dirigente nacional do Bloco de Esquerda e membro da Comissão Coordenadora Concelhia de Viseu do BE. Membro da direcção da FRAPViseu – Federação Regional das Associações de Pais de Viseu. Membro da direcção da Associação de Pais [e mães] e Encarregad@s de Educação de Vildemoinhos.