Calcorreei, recentemente, um dos muitos recantos de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde, com toda a naturalidade, vejo, revejo e me maravilho com as singularidades típicas de uma paisagem rural da montanha, humanizada quanto baste, carregada de bucolismo e de harmonia.
Não falta nada… rios e ribeiros, límpidos e transparentes, onde peixes endémicos como a truta e o escalo, comprovam a qualidade destas águas; ao longe, cumes montanhosos de rocha granítica; em altitudes mais baixas, o bosque… onde sobressaem, carvalhos, castanheiros e azevinhos, intercalados harmoniosamente com lameiros verdejantes, onde o gado autóctone vai tranquilamente pastando; de ambos os lados dos caminhos que percorro, os típicos muros de pedra solta que, ao longo de muitos anos, teimam em manter-se de pé; aqui e ali gente tranquila da aldeia próxima tratando dos seus inadiáveis afazeres agrícolas; por cima de tudo, um céu azul deslumbrante;
Apesar de um evidente despovoamento, aqui vive gente!
Gente que prefere manter-se nestes lugares; gente que não desiste de viver aqui, continuando, na maioria dos casos, hábitos ancestrais de trabalho, duro e muitas vezes, pouco rentável economicamente.
Mas teimam em viver aqui.
Caminhar por estes caminhos é uma “terapia” revigorante para qualquer ser humano.
Perante estas paisagens tão belas e simultaneamente tranquilizantes, não resisti à tentação de as registar, fotograficamente, para a posteridade, ou de as divulgar; mas é uma evidência que a sua beleza só é totalmente constatável através de um olhar direto, sem “intermediários”…
Fica, então, o desafio da visita aos leitores, possivelmente distantes.
Mas, imaginem agora que, nestas terras, até ao presente, tão bem geridas pelas suas gentes, se descobrem, fortuitamente, ou não, imponentes jazidas de minerais, com lítio!
Haverá, de imediato, um desusado movimento, bem comandado pelas, sempre atentas e discretas multinacionais saqueadoras, seguramente nas costas do povo, seguramente apoiado por altos responsáveis governamentais, prometendo o melhor dos mundos…
Num ápice, surgirão equipas de advogados e legislação condizente para tornar inevitável ou irreversível a exploração deste metal e aquela terra ficará irremediavelmente transformada ou numa paisagem lunar, sem vida, ou em profundos poços ou escombreiras que a gula exploratória cavará.
Para terem uma ideia do que poderá acontecer recomendo uma consulta na net solicitando imagens de exploração mineira de lítio… é caso para dizer…”uma imagem vale mais do que mil palavras”…
Será que desejam ou aceitam que ela possa ficar mais ou menos assim?
E, perante este holocausto ambiental surge, legítima e inevitável, a pergunta mais simples do mundo:
MAS É MESMO ISTO QUE QUEREM NAS VOSSAS TERRAS?
Natural de Vila Real e aderente do Bloco de Esquerda