Hoje assinalam-se os 78 anos do nascimento de José Mário Branco, um dos nomes maiores da canção portuguesa, um dos artistas mais importantes da música portuguesa nos séculos XX e XXI. Marcou o país pela inteligência musical, pela força política da sua obra e pela poética que tudo atravessa. Tocou desde música de intervenção até ao fado, como intérprete, compositor, letrista e produtor.
Nasceu no Porto em 1942 e deixou-nos em 2019 com, 77 anos, após um acidente vascular cerebral (AVC). Foi militante do Partido Comunista Português (PCP), em 1999, apoiou a criação do Bloco de Esquerda, do qual foi dirigente. A ditadura obrigou-o ao exílio em França desde 1963. Voltaria a Portugal no dia 30 de abril de 1974. O momento icónico ficou documentado através do Noticiário Nacional e pode ser visto nos Arquivos RTP, com declarações de José Afonso sobre a importância do 25 de Abril e de José Mário Branco sobre o significado do seu regresso, os presentes cantam em coro “Grândola Vila Morena”.
É autor de álbuns emblemáticos: Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades (1971), de Margem de Certa Maneira (1973), A Mãe (1978), do duplo Ser solidário (1982), A Noite (1985), Correspondências (1990) ou Resistir é Vencer (2004). É produtor do que é considerado por muitos consideram o melhor disco de José Afonso, Cantigas do Maio (1971). Escreveu letras para um dos primeiros discos de Sérgio Godinho. Fundou, com Fausto, Afonso Dias e Tino Flores, o Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta (GAC) depois de regressar do exílio de onde saiu muito do seu trabalho mais político que continua hoje a ser uma arma.
A Cantiga é Uma Arma (1975)
Interpretação: Grupo de Ação Cultural (GAC) – Vozes na Luta
Letra: José Mário Branco
a cantiga é uma arma
eu não sabia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria
há quem cante por interesse
há quem cante por cantar
há quem faça profissão
de combater a cantar
e há quem cante de pantufas
para não perder o lugar
O faduncho choradinho
de tabernas e salões
semeia só desalento
misticismo e ilusões
canto mole em letra dura
nunca fez revoluções
a cantiga é uma arma
(contra quem?)
Contra a burguesia
tudo depende da bala
e da pontaria
tudo depende da raiva
e da alegria
a cantiga é uma arma
de pontaria
Se tu cantas a reboque
não vale a pena cantar
se vais à frente demais
bem te podes engasgar
a cantiga só é arma
quando a luta acompanhar
Uma arma eficiente
fabricada com cuidado
deve ter um mecanismo
bem perfeito e oleado
e o canto com uma arma
deve ser bem fabricado