Falamos de acordos climáticos como se fosse um conflito futuro. O clima está cá, convém preservá-lo e saber lidar com a sua vida própria. Porque nós não somos fogo. E queimamo-nos.
Estamos todas e todos focados no Covid e na economia. Entretanto notamos que a temperatura subiu. Os sinos deviam começar a tocar. Pedrogão vai voltar a acontecer. Vem aí o fogo.
O facto de o mundo ter mudado e afetado as condições climáticas, para melhor até ao que parece, não vai impedir incêndios florestais. Sejam eles naturais ou por iniciativa humana.
Nos anos anteriores tem sido debate fulcral na nossa sociedade e noutros países igualmente afetados. Houve medidas de “prevenção?”. Sim: responsabilização de proprietários, embora como já escrevi os proprietários só são responsáveis de vez em quando.
Estará o governo preparado para isto? Temos muitos engenheiros silvicultores e arquitetos de planeamento. Temos uma quantidade de instituições – governo civil, bombeiros e mais heróis, mais e mais heróis sempre, paramédicos, enfermeiros e médicos.
Mas vem aí o fogo. E vai estar misturado com um invasor biológico e uma desregulação económica. Que fazer? Dar dinheiro aos municípios? É uma táctica sem estratégia. Não sabemos onde vai aparecer uma árvore a arder, uma floresta, uma povoação. Não há um mapeamento feito do que é mais perigoso, do que se tem que salvaguardar. E quem ficar sem recursos: casa, propriedade, fábricas, etc… como aconteceu no passado. Vai contar com quem? Vamos pedir a quem para nos trazer aviõezinhos com jatos de água?
Estamos em Maio. Sabemos quando e como ataca há anos. Qual é o plano? Quem quer saber?
É que a humanidade mudou de estilo de vida mas existem 4 estações ainda, e um clima mal preservado que não percebe ciência nem necessidades humanas. Percebe as leis da físico-química. O calor queima e faz arder. Uma fogueira mal apagada queima auto-estradas. Uma beata (não católica) mata uma vila.
E se alguém bater no Primeiro-ministro, ou no Presidente da República em período eleitoral, ficamos a pensar na politiquice, se foi a direita ou a esquerda, e esquecemos quem viu tudo a arder, quem morreu, quem perdeu.
Falamos de acordos climáticos como se fosse um conflito futuro. O clima está cá, convém preservá-lo e saber lidar com a sua vida própria. Porque nós não somos fogo. E queimamo-nos.
Os fogos são uma vicissitude da Europa do Sul. Para isso só contamos connosco. As férias de Verão são uma virtude do mundo. Portugal, com Lisboa em 12º lugar mundial no espectro do turismo, espalhando essa classificação a nível nacional, conta com o mundo a trazer o seu dinheiro para comprar casas, e investir na hotelaria e restauração, que desesperam neste momento, à espera dos “subsídios?” (desculpem – lol!) da UE. Mas não há subsídios para zonas queimadas, mortas , em cinzas.
Vem aí o fogo. Temos quem faça uma gestão da crise cíclica nesta crise pandémica “excepcional”?
Toca-nos a todos. Chamusca-nos. Vamos prevenir antes de fingir que remediamos.
Texto de Paulo Pina da Silva