Este sábado, cidadãos e organizações ambientais repudiaram a estratégia do Governo de “corrida ao lítio” para ceder 10,1% do território para mineração a multinacionais. Quercus apresenta estudo que revela que esta estratégia impede Portugal de cumprir a neutralidade carbónica.
A ação criativa que decorreu na Torre, Serra da Estrela, reuniu cerca de quatro centenas de pessoas, que escreveram a mensagem “Não às minas – Água é Vida”. O protesto, filmado a partir do ar com drones, foi divulgado internacionalmente “para ampliar as vozes dos milhares de cidadãos e grupos ambientais do centro e norte do país que estão contra a mineração de lítio e outras substâncias à porta das suas residências”.
Os ativistas denunciam que as “intenções para prospeção e exploração em Portugal apareceram sem aviso e, em alguns casos, concessões já foram dadas ilegalmente”.
A Serra da Estrela foi escolhida como palco do protesto “por existirem diversos pontos de prospeção de lítio à volta da Serra da Estrela, com a concessão ‘Boa Vista’. Esta abrange a região na margem esquerda do rio Mondego, e contempla os concelhos de Seia, Tábua, Oliveira do Hospital, e Gouveia”.
Os organizadores lembram que a empresa australiana Fortescue, quarta maior produtora global de minério de ferro, é a aquela que, até agora, apresentou mais requerimentos (22) em 2019, e é também detentora do pedido que afeta esta região.
“A mineração deste tipo ocorre principalmente a céu aberto e utilizando explosivos e agentes químicos com grande risco para o ambiente, como a contaminação da água e a poluição atmosférica. Isto terá não só impacte na saúde pública, como também na economia local, na agropecuária e no turismo, degradando uma paisagem já em si afetada pelos incêndios florestais e monoculturas”, sublinham.
Apenas em 2019, avançam “foi requerida uma área de 6 926,168 km2, para prospeção de lítio e outros minerais, com grande concentração no Norte e o Centro. Mais avançados estão os pedidos para as Minas da Sepeda, Covas do Barroso e Argemela. Em todos estes pedidos regista-se grande oposição dos habitantes, municípios e entidades ambientais”.
Um estudo da associação ambientalista QUERCUS, que será divulgado esta segunda-feira, revela que, se o Governo avançar com a campanha de exploração de lítio, Portugal “não vai conseguir cumprir a neutralidade carbónica”.
O estudo, elaborado a nível nacional, revela o “completo contrassenso do Governo” em estar “por um lado a querer atingir a neutralidade carbónica” e, por outro, “avançar com um plano de mineralização do lítio que contraria todo esse investimento e todos esses compromissos que Portugal tem estado a assumir a nível mundial no combate às alterações climáticas”, explicou Samuel Infante, dirigente da QUERCUS.
“É um contrassenso e não podemos, por um lado, querer que Portugal assuma a neutralidade carbónica, os compromissos das Nações Unidas, o combate às alterações climáticas, a descarbonização da economia e, por outro lado, estar a querer apostar na mineração com esta dimensão, com esta escala, com este impacto. E isso vai pôr em causa todos os compromissos internacionais que Portugal tem vindo a assumir”, frisou o responsável.
Artigo publicado em Esquerda.net