Ensino secundário: Mais de metade dos concelhos sem todos os cursos

Escola

Os alunos dos cursos científico-humanísticos deveriam poder escolher entre quatro cursos, mas em grande parte do país há opções limitadas. Artes é o curso menos disponível e o interior é que fica a perder em termos de variedade. Artigo esquerda.net.

Só em 127 concelhos do país existem todos os cursos do ensino secundário. A análise foi publicada esta terça-feira pelo Jornal de Notícias com base em dados do Infoescolas disponibilizados pelo Ministério da Educação. O Governo desculpa-se dizendo que “existem territórios com um número cada vez mais reduzido de alunos nos cursos científico-humanísticos” por causa de uma “redução paulatina dos nascimentos, particularmente intensa no Interior, e a opção pelas vias profissionalizantes de um número crescente de alunos”.

O ensino secundário está dividido em quatro cursos nesta vertente “científico-humanística”: Ciências e Tecnologias, Línguas e Humanidades, Ciências Socioeconómicas e Artes Visuais. E era suposto os estudantes poderem escolher qual prosseguir. Mas essa possibilidade apenas existe em 45,7% dos municípios nacionais. Em 49 concelhos há duas escolhas, em oito só uma e em 33 não existe sequer ensino secundário. No ano letivo 2018/19, o curso menos oferecido foi Artes Visuais. Apenas 132 concelhos disponibilizaram esta oferta. Era possível escolher Ciências Socioeconómicas em mais de metade dos municípios do país, 172, correspondentes a 61,8%.

Se os dados forem dissecados por escola, isto quer dizer que apenas 214 escolas (36% do total) têm todos os cursos. 195 (32,8%) apresentam três possibilidades de escolha. 32 escolas (das quais dez são privadas) apenas oferecem um curso.

Aquele órgão de comunicação social falou com José Verdasca, coordenador do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. Este explicou que dois terços dos alunos escolhem o curso de Ciências por causa das “representações positivas” associadas às carreiras a que dá acesso. O responsável defende que se deve reorganizar a rede de oferta escolar para permitir a “possibilidade de exercício de liberdade de escolha por parte dos alunos”.

As associações de pais queixam-se do impacto que isto está a ter na vida das famílias. Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, informa que “há crianças de 14 ou 15 anos que já vivem sozinhas em centros urbanos para poderem frequentar o curso que gostam. E também há famílias que mudam de casa pelo mesmo motivo. Mas esses são os que podem, os outros têm de se sujeitar ao que é oferecido”. O problema, pensa, “cada vez vai ser pior e penalizar cada vez mais o Interior”.

Os diretores de escolas também gostariam de poder oferecer todas as opções, mas as regras de existir um mínimo de alunos comprometem essa intenção. Filinto Lima, da associação de diretores Andaep, defende que em territórios de baixa densidade o patamar devia baixar porque assim “os alunos do litoral são privilegiados em relação aos do interior”. Por sua vez, Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, avança com ideias como o reforço dos transportes ou a implementação de uma rede de famílias de acolhimento para acompanhar os estudantes nos dias de semana.

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