Montalegre: Campanha arqueológica descobre acampamento militar romano

Foi descoberto no lugar de Vegide, concelho de Montalegre, um acampamento militar romano, com um recinto de cerca de três hectares e com data entre os séculos I a.C e I d.C.
Foto por Vitor Oliveira | Flickr

Esta descoberta foi feita através de uma campanha arqueológica em Vegide, localizado entre Tourém, aldeia do concelho de Montalegre e Calvos de Randim na Galiza.

Segundo declarações ao PÚBLICO do arqueólogo do colectivo Romanarmy,eu, João Fonte este acampamento terá sido “construído num contexto não bélico”.

O coletivo Romanarmy,eu, que fez esta descoberta, estuda a presença militar romana do Norte de Portugal até à Cantábria. Este acampamento está inserido no vale do rio Salas, rodeado por castros e tem uma morfologia retangular, possuindo as esquinas arredondadas.

Em declarações ao PÚBLICO, o arqueólogo afirma que “O acampamento não estava numa zona de refúgio, de protecção, estava numa zona exposta. Se houvesse um contexto de guerra teria de estar numa zona mais elevada, numa montanha, por exemplo”, considerando que “poderá haver ali um contexto de reorganização territorial e social das comunidades indígenas, num momento posterior” ao da conquista romana.

Este projeto que teve o seu início em maio de 2021 é financiado pela Comissão Europeia e conta com a parceria da Câmara Municipal de Montalegre, o Ecomuseu de Barroso, a Junta de Freguesia de Tourém, o Conselho Directivo dos Baldios de Tourém e o Concelho de Calvos de Randim.

O coletivo tinha a perceção de que naquele local poderia haver um recinto militar romano, o que se veio agora a confirmar ao encontrar no local “um fosso externo em V, escavado no substrato geológico, e um talude interno construído com a terra retirada do fosso”.

Ainda segundo João Fonte esta campanha “validou que ali está, sem sombra de dúvida, um acampamento militar romano”, que aponta ainda que “Sabemos que o recinto terá sido ocupado sobretudo no início do século I d.C e que o mesmo já estaria abandonado no final do século II d.C”.

O arqueólogo refere ainda que para além do fosso e do talude interno recolheram “algumas sementes carbonizadas” que podem ser importantes para perceber a “dieta” do exército, bem como outros elementos metálicos que fariam parte das sandálias usadas pelos soldados romanos.

Este coletivo realiza também intervenções no alto da Pedrada (Soajo, Arcos de Valdevez) e Lomba do Mouro (Castro Laboreiro, Melgaço e Verea, Ourense), localizados na Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.

João Fonte considera que em Vegide o “território estaria a começar a ser reorganizado num momento imediatamente posterior à conquista” e que “as próprias comunidades estariam a ser integradas no próprio mundo romano”.

Esta investigação encontrou também vestígios de ocupação anterior à dos romanos “talvez do Bronze Final ou da Primeira Idade do Ferro”, entre os séculos VIII e VI a.C”, segundo João Fonte.

Os investigadores pretendem alargar a zona de escavação, considerando que “O local tem contextos arqueológicos excepcionais que importa investigar. Além da muralha e do fosso, há várias estruturas de combustão, como carvões e sementes, que são um manancial de informação”.

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