Em Viseu, após inaugurar a oitava edição da Sementeira, Catarina Martins frisou que “é inaceitável que o Estado, que é ainda acionista do Novo Banco, feche os olhos a tudo o que se está a passar” e pague os prejuízos com o dinheiro dos contribuintes. Por sua vez, Carolina Gomes falou sobre a Cultura já que os “paradigmas alteram-se através da cultura. Uma resposta honesta à crise passará, obrigatoriamente, pela valorização da cultura”.
Primeiro garantiam que não seriam os contribuintes a pagar. Depois que não pagaríamos mais sem auditoria. Na verdade o…
Publicado por Catarina Martins em Sábado, 5 de setembro de 2020
“Para o Bloco de Esquerda há uma condição muito séria: no Orçamento do Estado para 2021 não pode haver nem um tostão para continuar a pagar os desmandos do Novo Banco. Já provámos que nos estão a enganar, é preciso travar e é preciso proteger o país, quem aqui vive, quem aqui trabalha e quem precisa de responder a uma crise”, avançou a coordenadora bloquista.
Catarina Martins lembrou que o Bloco “nunca desistiu” de conhecer as contas e disse “que a Lone Star era um fundo abutre desde o primeiro momento”.
“Quando nos disseram que a resolução do BES não ia custar um cêntimo aos contribuintes, garantiram também que a venda do Novo Banco não ia custar um tostão aos contribuintes. Não foi verdade da primeira vez, não foi na segunda”, lembrou Catarina Martins.
“Quisemos sempre conhecer as contas, dissemos que a Lone Star era um fundo abutre desde o primeiro momento, e que vender o Novo Banco a um fundo abutre era ter a certeza que o Estado ia ter as piores perdas para que a Lone Star pudesse fazer o máximo de dinheiro em pouco tempo. Porque é isso que fazem os fundos abutres”, continuou.
A dirigente do Bloco recordou ainda as garantias que foram dadas, “que não havia problema, que havia mecanismos de fiscalização, estava tudo montado: o fundo de resolução fiscalizava, existiriam auditores das contas, tudo seria controlado”.
“Foi mentira que a resolução do BES não custasse um tostão aos contribuintes. Foi mentira que a venda da Lone Star não custasse um tostão aos contribuintes. Como é mentira que existam mecanismos de fiscalização do que faz o Novo Banco”, destacou.
Catarina Martins referiu-se ainda aos negócios ruinosos do banco: “Nos últimos tempos, o Novo Banco tem-se multiplicado em negócios que são absolutamente ruinosos para o Estado. Seja os inexplicáveis negócios imobiliários, quando ainda antes da pandemia, quando os imóveis valorizavam todos os dias, o Novo Banco vendia imóveis todos os dias, com enorme prejuízo, a fundos escondidos em off-shores, seja na venda de uma seguradora a preço de saldo a um corrupto que já tinha sido condenado noutros países”.
“Em todos estes negócios”, acrescentou, “há algo em comum: perdas registadas que serviram para ir buscar dinheiro ao fundo de resolução, leia-se, dinheiro dos contribuintes”.
Sobre a auditoria da Deloitte, a coordenadora do Bloco lembrou que esta consultora “assessorou o ruinoso negócio da venda da seguradora do Novo Banco a um corrupto condenado para depois imputar perdas ao Fundo de Resolução e exigir mais dinheiro ao Estado”.
“Pergunto: Podemos nós acreditar numa auditoria que foi feita numa parte interessada num dos negócios ruinosos do Novo Banco? Que credibilidade tem afinal uma auditoria que até diz que está tudo mais ou menos bem? Como é que foi possível o Governo deixar levar até ao fim como auditor do Novo Banco alguém que tinha um conflito de interesses óbvio no Novo Banco, alguém que foi parte num dos negócios ruinosos do Novo Banco?”, questionou.
Catarina Martins defendeu que “a auditoria da Deloitte tem de ir para o caixote do lixo”, na medida em que “não tem credibilidade”, e que “a administração do Fundo de Resolução e a do Novo Banco, que são cúmplices com esta situação, não se podem manter”.
“É inaceitável que o Estado que é ainda acionista do Novo Banco feche os olhos a tudo o que se está a passar e continue a pagar os desmandes do Novo Banco”, vincou, adiantando que “já são milhares de milhões de euros que são injetados”. “É dinheiro que faz falta no apoio social e económico”, principalmente, com a “crise da pandemia” da covid-19, assinalou.
“Hoje mesmo sabemos que António Ramalho, administrador do Novo Banco, é reconduzido como administrador do Novo Banco. Querem dizer-nos que nada vai ser como dantes quando fica tudo como dantes num sistema financeiro que faz tudo o que quer e lhe apetece e não tem a mínima transparência e quer continuar a exigir aos contribuintes o que não pode exigir”, afirmou a dirigente bloquista.
Carolina Gomes, dirigente distrital do Bloco de Esquerda, referiu que “a pandemia de Covid-19 trouxe mais do que uma crise sanitária: é também uma crise social e económica. Revelou o pior da desregulação e precariedade do mundo do trabalho, da falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde e a grande fragilidade do setor dos cuidado. Esta é uma realidade transversal que se fez sentir com grande impacto no mundo da cultura e das artes”.
A dirigente distrital apontou a cultura como uma das resoluções para ultrapassar a crise “alterando paradigmas, para que as respostas não sejam remendos supérfluos e efémeros, mas antes reconfigurações estruturais de um modelo que já se provou a si mesmo, por muitas vezes, insuficiente, ineficaz, autofágico e predador do ambiente e da qualidade de vida. Paradigmas alteram-se através da cultura. Uma resposta honesta à crise passará, obrigatoriamente, pela valorização da cultura e pela reposição do seu papel basilar na sociedade, enquanto campo de ensaio e construção coletiva da mudança”.
“A cultura é o espaço do nada e é aí que reside o seu valor, pois permite abrir horizontes para a reflexão crítica e livre de tudo o que nos rodeia. Cultura é o espaço para pensar, que ganha relevo numa sociedade em que tudo corre a um ritmo frenético sem deixar nesga de tempo ou predisposição para a reflexão e para a crítica”, terminou Carolina Gomes.
Podes aceder a fotogaleria da inauguração da 8ª edição da Sementeira, aqui.