David Caetano, presidente dos Caminheiros da Gardunha, que promovem iniciativas como a Gardunha sem Lixo, deu a sua opinião sobre como pensar o território e as pessoas promovendo a sua biodiversidade do painel “Ambiente do Avesso”. Tocou assuntos como a biodiversidade urbana e rural, a exploração de lítio e a floresta que “não temos”.
Em vez de floresta, em Portugal, David Caetano diz que temos “uma exploração intensiva e desordenada monocultural de pinheiro bravo e eucalipto que, apesar das promessas, continua a ganhar terreno”, um modelo económico florestal que se prolonga desde o Estado Novo.
Na sua opinião, “é urgente mudar este modelo”, “mas para isto é sobretudo preciso haver coragem política”. No entanto, como podemos ter esta mudança “quando os nossos decisores estão emaranhados na rede dos lobbies de celulose” e quando os pequenos silvicultores nunca conheceram outro modelo?
David salienta que “é possível tirar outro tipo de rendimento dos espaços florestais”, num modelo em que as próprias florestas “promovem biodiversidade”, espaços baseados em árvores autóctones, como por exemplo o carvalho e o castanheiro. “Está provado que o potencial de rendimento das florestas de carvalho, de castanheiro, embora seja menos rentável em espaços de tempo relativamente curto”, a partir de 40 anos é “claramente superior”.
Para esta transição de 40 anos tem é necessária intervenção e ação do Estado para promover e garantir a conversão florestal “até se começar a obter rendimento”. “É preciso é coragem!”. Coragem que escasseia se nos lembrarmos “que os nossos ecossistemas têm sido presa fácil para esta devoragem de interesses financeiros”.
Parecendo ficar em segundo plano algo que David Caetano diz que “há que estabelecer taxativamente”: “para a saúde e para o bem-estar das pessoas, há uma grande influência, há uma relação direta com o grau de presença da natureza e dos espaços de biodiversidade”. “Realidade que parece distante das preocupações dos nossos decisores, seja a nível local ou nacional.”
Nas cidades “vemos que as autarquias estão pouco preocupados em promover espaços onde os seus cidadãos possam estar em contacto com a natureza e quando fazem parece ter havido uma maior preocupação em dizer-se que se fez do que propriamente em ter-se feito bem”.
No espaço rural assistimos a coisas graves a acontecer, como por exemplo a proliferação, à custa do “extermínio maciço de árvores autóctones”, de “espaços de exploração frutícola intensiva, no caso dos olivais e dos amendoais, não só no Alentejo mas também no interior”. Ficando “um vazio em termos de regulação do equilíbrio do ecossistema” que “acaba depois por ser preenchido com agroquímicos”.
Outra ameaça é ainda a exploração de lítio a céu aberto, algo que David esclarece não ser contra, por si só, defendendo “que as concessões para a exploração mineira devem obedecer a critérios muito apertados de regulamentação e que deve ser sempre avaliada a relação custo-benefício deste tipo de explorações, não só nível nacional mas sobretudo para as comunidades locais que vão sofrer na pele o impacto direto destas explorações”.
Ambiente do Avesso? O panorama ambiental do interior
Associações, Movimentos, Coletivos e Ativistas do Interior partilham as suas perspectivas e lutas pelo ambiente.
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