Política cultural colocada em causa pela Companhia da Chanca: pouco ou nada está a ser feito pela coesão territorial

Companhia da Chanca
Foto por Companhia da Chanca | Facebook
A divulgação dos últimos resultados dos apoios da DGArtes torna evidentes assimetrias graves no país no acesso à arte e à cultura. Em carta aberta a Companhia da Chanca, que exerce atividade num território de baixa densidade do interior, questiona a política cultural existente.

A associação cultural sediada na aldeia da Chanca (Rabaçal, concelho de Penela), sentiu necessidade de expor publicamente as suas reflexões e experiências depois de não ter recebido qualquer tipo de apoio em nenhum dos projetos que submeteu a concurso ao Programa de Apoio a Projetos 2020 da Direção-Geral das Artes  (DGArtes), tanto na categoria de Programação e Desenvolvimento de Públicos como na de Criação e Edição. Ambos os projetos foram considerados elegíveis, obtendo pontuações de 80,5% e 76%.

A Companhia da Chanca considera que “pouco ou nada está a ser feito para atingir a coesão territorial e que o recente Projeto de Decisão do Programa de Apoio a Projetos 2020 da DGArtes reflete uma tendência que vai em sentido contrário ao que é apregoado pelo governo como objetivos de desenvolvimento para os territórios do interior e de baixa densidade populacional.”

Dos apoios distribuídos, apenas 4% dos fundos disponíveis foram para o Apoio a Projetos de Criação e Edição para 2021 para a região Centro, onde vive 23% da população nacional. Números que contrastam com a distribuição de 72% dos fundos na Área Metropolitana de Lisboa, onde vive 28% da população.

A Companhia da Chanca, exerce a sua atividade num território de baixa densidade populacional, no interior do país, onde a oferta cultural é rara e a curadoria praticamente inexistente. Trabalha para um público em iniciação, “para a criação de objetos artísticos e atividades culturais de qualidade, capazes de conversar com as populações locais, sem prejuízo da sua significância artística e universal.” Através da circulação nacional e internacional das obras, a companhia promove a discussão sobre a coesão territorial numa esfera global.

Esta companhia de teatro “acredita que as populações do interior têm o direito a desenvolver-se de acordo com as suas necessidades, ritmos e curiosidades ao invés de serem única e exclusivamente “colonizadas” por objetos e ações desenhadas fora do seu contexto e que podem até sabotar de forma indelével o seu amadurecimento enquanto público.” O percurso iniciado há cinco anos atrás, financiado pela DGArtes pela primeira vez em 2019, fica interrompido sem um apoio que perspective um investimento a longo prazo.

“Lamentavelmente, a Companhia da Chanca não compreende um Governo que por um lado reconhece as assimetrias vividas no território e por outro não convoca uma política cultural adequada, sabendo que a cultura é um dos aspetos fundamentais para a fixação da população no território”, pode ler-se na carta aberta.


Viseu também fica fora dos apoios à cultura

O concelho de Viseu também é um dos que ficou fora dos apoios da Direção-Geral das Artes (DGArtes). As candidaturas apresentadas pelo encenador Graeme Pulleyn e pelas associações Acrítica, Sweetfields, Gira Sol Azul, Ardemente e Ritual de Domingo foram todas rejeitadas, apesar de apenas as candidaturas da Acrítica e da Sweetfields não terem sido consideradas elegíveis.

Catarina Martins esteve esta semana em Viseu, no espaço Carmo 81, onde reuniu com agentes culturais locais, que testemunharam esta desigualdade e disparidade territorial na atribuição dos fundos da DGArtes. Catarina Martins defendeu que esta situação de gravidade extrema deve “ser corrigida o quanto antes”, sendo necessárias alterações na forma como a cultura é financiada e como são distribuídos os financiamentos em todo o território, pois “em todo o território as pessoas têm direito de acesso à cultura.”

Catarina Martins: “O setor cultural aceitou as regras, é preciso que o governo aceite a sua responsabilidade”

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