Bombeiros da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lamego testemunham falta de cumprimento das normas da DGS, negação de permissão para confinamento devido a falta de pessoal, falta de equipamentos de proteção individual adequados e ameaças de processo disciplinar.
A direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lamego (AHBVL) tem estado sob polémica nos últimos dias, tendo sido acusada pelo subchefe Nuno Moreira de instruir elementos da corporação infetados a não revelar os contactos às autoridades de saúde. Depois desta acusação se tornar pública, a situação foi prontamente desmentida pela direção, negando todas as acusações.
No entanto, a posição da direção foi rapidamente desmentida através de um comunicado de imprensa com o testemunho na primeira pessoa partilhado por um bombeiro. O Interior do Avesso teve acesso a esse desmentido, bem como a um outro testemunho de um outro bombeiro que corrobora o primeiro.
António Miguel Santos Rodrigues, Bombeiro de segunda classe, no Quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lamego, denuncia que “a Associação não cumpriu escrupulosamente as normas estabelecidas e recomendadas pela “DGS – Direção Geral da Saúde”,com não seguiu o protocolo com todos os que estiveram em contacto” com um elemento infetado.
António Rodrigues, por “auto-recriação”, fez o teste suportando todos os custos, para prevenção da família e de quem transporta ou socorre. Depois do resultado inconclusivo do teste, informou o presidente da direção da AHBVL, Helder Santos, de todos os factos, “questionando-o se não seria adequado ir para casa, ficar em confinamento profilático como é recomendado pelas normas emanadas pela DGS, até à repetição de novo teste.”
Neste seguimento, “a resposta do Sr. Presidente, Dr. Hélder Santos, foi pronta, direta e perentória, que não poderia aceitar, porque iríamos ter um fim de semana longo e como estamos com falta de efetivo, era preciso trabalhar respondendo que se ficasse em casa, TERIA UMA FALTA INJUSTIFICADA!”, pode ler-se no comunicado do bombeiro.
Acusam ainda a direção de não disponibilizar os equipamentos de proteção individual adequados. “Falta equipamento de proteção individual, porque a única coisa que eles nos deram foi um “saco do lixo”, que é o que mais parece, verde e que tem duas aberturas para metermos os braços”, contou o bombeiro com quem falámos.
Acrescentando ainda que “meteram em ordem de serviço que, quem não quisesse cumprir o serviço nessa situação, que seria sujeito a processo disciplinar e os funcionários da casa até com processo disciplinar podiam ser mandados para a rua por justa causa.”
O Bombeiro que nos prestou declarações dá ainda conta de que, apesar de casos positivos já serem conhecidos desde o início do mês, apenas nos últimos dias foram tomadas medidas. A direção deu informação de que “tinha sido feita desinfeção das instalações, nas ambulâncias, a partir deste momento sempre que houvesse uma situação de covid tinham que ir as ambulâncias à proteção civil para desinfetar e que os funcionários da casa mais dezasseis bombeiros voluntários iriam ser submetidos a testes covid”.
Comunicado de Imprensa/ Desmentido de António Miguel Santos Rodrigues
“Em relação ao comunicado da “Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lamego”, onde desmente pública e veementemente, com todas as letras e palavras, acerca das acusações do S/ Chefe Nuno Moreira, tenho a dizer o seguinte:
Eu, António Miguel Santos Rodrigues, Bombeiro de segunda classe, no Quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lamego, com o número mecanográfico 18030110, venho por este meio, Esclarecer e Desmentir o facto da direcção alegar, não ter conhecimento de casos de bombeiros infectados com “Covid 19” ou casos suspeitos … quanto a outros assuntos não me pronuncio, pelo facto de não ter presenciado ou ter estado presente.
Após o Presidente da Direcção Dr. Helder Santos ter tido conhecimento, via telefone, que eu tinha estado em contacto com o camarada Subchefe João Branquinha (em que o mesmo que tinha testado positivo ao “Covid 19”) , e havia uma suspeita do Subchefe Alfredo Lourenço, que mais tarde também se confirmou positivo. O Presidente Dr. Helder Santos também teve conhecimento, que eu tinha efetuado um serviço com o Subchefe Alfredo Lourenço. Por isso a Associação não cumpriu escrupulosamente as normas estabelecidas e recomendadas pela “DGS – Direção Geral da Saúde”,com não seguiu o protocolo com todos os que estiveram em contacto com este elemento, provando desta forma que é completamente mentira e vergonhoso o desmentido público da própria direção! Eu, por auto-recriação, responsabilidade e atitude digna de um civil e profissional dos B.V.,para prevenção da minha família e a quem socorro e transporto todos os dias, sendo eu funcionário desta instituição, fiz o teste suportando pessoalmente todos os custos.
Após o resultado do teste que foi inconclusivo, tive o cuidado de no dia 4 de Dezembro por volta das 10:25 da manhã, informar via telemóvel (sob a presença do Sr. Comandante Nuno Carvalho e do Subchefe Nuno Moreira), o Senhor Presidente Da Direção o Dr. Helder Santos de todos estes factos, questionando-o se não seria adequado ir para casa, ficar em confinamento profilático como é recomendado pelas normas emanadas pela DGS, até à repetição de novo teste. A resposta do Sr. Presidente, Dr. Hélder Santos, foi pronta, direta e perentória, que não poderia aceitar, porque iríamos ter um fim de semana longo e como estamos com falta de efetivo, era preciso trabalhar respondendo que se ficasse em casa, TERIA UMA FALTA INJUSTIFICADA! Como este contacto decorreu como já afirmei em cima, na presença do Sr. Comandante Nuno Carvalho e do S/ Chefe Nuno Moreira, fez com que unicamente, repito unicamente o Subchefe Moreira, se senti-se imediatamente lesado, revoltado, por sujeitar os seu subalterno a tal situação e que inclusivé no futuro, pudesse trazer problemas legais, morais para todos, principalmente para a instituição!
Lembrar ainda que, nesse mesmo dia efetuei um serviço ,de transporte para “Moura Morta”- Viseu, seguindo posteriormente para Tondela e depois para Coimbra, com três doentes oncológicos, tendo apenas como “EPI – Equipamento Proteção Individual”,uma máscara cirúrgica e uma bata não impermeável, que vão contra todas as regras e normas estabelecidas pela DGS, expondo além dos doentes transportados, todo o pessoal do Hospital de Coimbra para onde fiz o transporte,além da exposição de tempo que foi superior a 15 minutos, o que a DGS afirma, que contribui para maior grau do risco de transmissão de infecção.
No resto desse dia não efetuei outros serviços porque não fui solicitado e não havia necessidade. Por isso, uma vez mais, este ponto prova inequivocamente que a Direção sabia e estava plenamente consciente de todos os riscos que a corporação corria. O Desmentido desta DIREÇÃO, É INVÁLIDO, OFENSIVO E VERGONHOSO!“
Lamego: Bombeiros com covid-19 terão sido instruídos a não revelar contactos