O grupo de investigadores do grupo MicroART (Microbiology and Antibiotic Resistance), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), procura respostas sobre as implicações da COVID-19 na resistência a antibióticos.
O MicroART, segundo notícia da UTAD, ocupa-se já há vários anos do estudo sobre a “crescente resistência de bactérias aos antibióticos, a qual se tem revelado um dos problemas mais graves que a humanidade terá de enfrentar num futuro próximo.”
Patrícia Poeta, docente da UTAD e líder do grupo, explica que “além de todas as implicações, já conhecidas, do vírus SARS-CoV-2, na saúde humana, também esta doença poderá estar a agravar a prevalência mundial de resistência antimicrobiana”, pode ler-se na notícia.
A investigadora da UTAD alerta ainda para o facto de “as consequências de saúde pública que poderão estar relacionadas com o tratamento de infeções secundárias em pacientes com COVID-19”.
“No tratamento de pacientes com COVID-19 tem-se verificado a administração de uma variedade de antibióticos de forma a combater a infeção viral e as complicações/infeções secundárias adjacentes” refere a investigadora.
Adiantando também que “embora os antibióticos não sejam usados no tratamento de infeções virais, a infeção bacteriana é, frequentemente, uma consequência secundária das infeções virais sendo que a administração de antibióticos durante esta pandemia poderá agravar a prevalência mundial de resistência antimicrobiana”.
Para evitar esta possibilidade, Patrícia Poeta recomenda uma gestão adequada do recurso a antibióticos. “É sabido que a preocupação é salvar vidas, contudo, não podemos descuidar as futuras implicações de efeitos colaterais desta pandemia, devido à administração de antibióticos”.
Carla Miranda, uma outra investigadora do grupo MicroART, também na notícia da UTAD, salienta que “o uso inadequado e excessivo de antibióticos acelera a resistência antimicrobiana, e, embora poucos estudos refiram especificamente o uso de antibióticos no tratamento de complicações graves de pacientes infetados com o SARS-CoV-2 ou inicialmente como medida profilática, contra-indicado pela Organização Mundial de Saúde, o impacto global no surgimento de resistência a novos antimicrobianos ainda é incerto”.
Neste sentido, a líder do MicroART alerta para a necessidade de “medidas urgentes, de forma a reduzir a administração e uso de antibióticos”, bem como para a “consciencialização da população em geral, incluindo a classe médica, sobre o uso inadequado dos mesmos, e a implementação de medidas higio-sanitárias de forma a prevenir a infeção e transmissão de doenças infecciosas”.
Para além destas medidas considera que “o investimento, por parte de governos e da indústria, deve ser fulcral, no desenvolvimento de novos medicamentos, vacinas e novos testes de diagnóstico.”
O MicroART publicou a 24 de agosto um artigo sobre estas questões (“Implications of antibiotics use during the COVID-19 pandemic: Present and Future”), na revista científica internacional Journal of Antimicrobial Chemotherapy.