Sobre os resultados eleitorais de domingo, saúdo democraticamente os eleitos e desejo-lhes o maior sucesso: assim Lamego o espera, assim os tempos o exigem.
Os Lamecenses foram chamados às urnas e entenderam não ser ainda tempo de atribuir ao Bloco de Esquerda representação na Assembleia Municipal. Sobre isso gostaria de citar o Manuel António Pina para vos dizer que tal não significa «[…] o fim nem o princípio do mundo».
Estamos de consciência tranquila relativamente ao caminho que temos trilhado e convictos do futuro que certamente ajudaremos a construir com vista à cidade que queremos e ao concelho com que sonhamos. Dito isto, é importante salientar que estas não são meras palavras de circunstância: quem nos conhece sabe que acreditamos mesmo nessa cidade: livre, aberta democrática e inclusiva — onde cada um pode ser quem quiser; dinâmica — onde haja emprego qualificado, qualidade de vida e cultura; verde — onde sejamos exemplo de harmonia entre a natureza e a nossa ocupação; habitada — onde não haja gente sem casa e casas sem gente; e até, quiçá, moderna e ambiciosa (sem as lenga-lengas e o fado do costume) — onde sejamos capazes de imaginar e projetar o crescimento da cidade numa lógica urbanística sustentável e que tenha tudo o que precisamos.
«Calma» — continuava o poeta — «é apenas um pouco tarde». Haverá tempo para tudo isso. Cá estivemos, cá estamos e cá estaremos para fazer a diferença. Ainda assim — permitam-me o desabafo — devo dizer que isto de fazer a diferença dá muito, muito trabalho: tira-nos sono, rouba-nos tempo à família e leva-nos muito tempo aos hobbies. Portanto das 16 horas disponíveis entre cultura e descanso (descontando as 8 horas de trabalho — e não há muitos dias em que sejam só essas) ficamos na verdade com muito pouco para nós senão a redentora capacidade de transformar algo. Evidentemente que há medo, alegrias, expectativas, frustrações e momentos para nos perdermos em interrogações como sugere o Sérgio Godinho: «um homem luta contra o sangue que derrama e diz: valeu a pena?». Chego invariavelmente à conclusão que sim. Precisamos é de mais gente e mais força para fazer esta luta a que nos propomos.
Às vezes as pessoas abordam-nos na rua e dizem que o Bloco devia fazer isto ou aquilo, ou candidatar-se a isto e àquilo, e que concordam, que até votam e afins. É também isto que nos acalora e dá força, mas permitam-me que vos diga que chegámos a um ponto em que é mesmo necessário contrariar o sofá e ir para a rua fazer acontecer. Portanto o meu apelo não poderá deixar de ser este: discutam, proponham, juntem-se, organizem-se e, claro, se se identificarem com as causas do Bloco, temos todo o gosto em receber-vos de braços abertos. Esta não é a luta dos outros: é a de todas e todos. Precisamos de toda a gente para fazer a diferença por este concelho.
Posto isto, quero deixar aqui uma nota muito especial de agradecimento a esta equipa fantástica: em particular à Carolina Leite , à Adelaide Osório , à Rita Diogo , ao Bruno Magalhães e ao Manuel Coelho que abraçaram este desafio de corpo e alma e fizeram esta campanha da qual, independentemente dos resultados, só nos podemos orgulhar — o mérito disso é todo vosso e, do fundo do coração, estou muito grato por ter a oportunidade de percorrer este caminho convosco. Quero também manifestar o meu enorme apreço a todas as pessoas que fizeram parte desta candidatura, a toda a gente que nos deu força nas ruas, a quem depositou a sua confiança em nós, ao pessoal incrível da produção do Bloco, aos nossos aderentes na região Douro Sul, aos nossos amigos do Bloco de Esquerda de Peso da Régua e por fim (mas não menos importante) às candidaturas do Bloco em Viseu, Carregal do Sal, Mortágua e Santa Comba Dão. Seguimos juntxs!
É também justo manifestar o meu reconhecimento por todas e todos que de alguma forma participaram neste processo eleitoral e que, direta ou indiretamente, se envolveram nas candidaturas dos vários partidos, motivados exclusivamente pelas suas convicções — coisa rara nos tempos que correm, mas que vai existindo. É bom que saibamos sempre separar as águas entre convicções e relações pessoais (e manifesto a minha profunda consideração por muitos envolvidos e até eleitos em diferentes listas e candidaturas). Espero que, por um lado, nunca deixemos de nos respeitar, e por outro também não tenhamos qualquer problema em nos confrontar politicamente, já que esses são para mim dois dos principais problemas que condicionam e muito a participação cívica e democrática nesta cidade, dentro e fora de órgãos. A esses poucos — que estimo e que não aparecem só em redes sociais e apenas em período eleitoral — lanço desde já o repto de se encontrar um fórum adequado onde possamos debater ideias e políticas numa base regular.
Por fim, há apenas um outro tópico que não posso deixar de abordar: sobre o elefante (e a sua entrada) na sala direi apenas que considero “uma coisa muito triste”. A esses quero apenas deixar uma mensagem bem clara: estamos atentos, resistimos e por nós não passarão.
Nasceu em Lamego, tem 28 anos e é ativista do Bloco de Esquerda desde os 16. Tem um forte pensamento crítico e teórico e gosta de pensar pela sua cabeça mas, verdade seja dita, isso nunca o levou a lugar algum. Confessa até uma certa relutância em referir-se na terceira pessoa.
É um diletante nato e dos rascunhos literários, ora falhados, ora eternamente arrastados, a sua melhor obra deverá ser mesmo tentar existir.
Atualmente vive e trabalha no litoral, para onde fugiu em busca de melhores condições de vida. A alma, essa, permanece no Interior.