A perspetiva do tatuador Fernando “Snap” Costa sobre a incerteza de reabertura da atividade

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Foto por Snap Tattoo & Body-piercing | Facebook
O Interior do Avesso falou com Fernando “Snap” Costa , tatuador profissional desde 2014, e proprietário do estúdio “Snap Tattoo & Body-Piercing” em Carregal do Sal desde 2015. Os tatuadores continuam sem saber quando podem recomeçar a reabrir os seus serviços, o que originou uma petição com mais de 4.000 assinaturas e uma pergunta ao governo apresentada pelo Bloco de Esquerda.

Fernando “Snap” Costa encerrou as “atividades em Março respeitando o Estado de Emergência Nacional, tendo uma quebra de faturação de 100% e com todas as contas e gastos continuando a somar.” Considera assim que “a Pandemia Global de Covid-19 tem sido um flagelo para todos, sem excepção dos tatuadores e piercers. À semelhança de todos também a nossa área profissional tem sofrido os efeitos da crise de saúde pública.”

A maioria dos estabelecimentos de tatuagens e piercings são pequenas empresas ou mesmo trabalhadores independentes, podendo grande parte usufruir de poucos ou nenhuns apoios. No entanto, “há famílias inteiras a depender destes negócios, e ao final de quase dois meses de confinamento as dificuldades de manter a subsistência já eram grandes mas já víamos uma luz ao fundo do túnel com a possibilidade de voltar ao trabalho no dia 4 de Maio com o fim do estado de Emergência e o Plano de Desconfinamento. Para nossa grande surpresa vemos-nos impedidos de trabalhar.” A angústia entendeu-se e cresceu no dia 18 de maio, em que mais uma vez o Governo impediu a retoma da atividade. Os profissionais da área continuam sem previsão de reabertura dos espaços “há já negócios a falir e a encerrar atividade, e outros obrigados a vender os seus bens para conseguir subsistir e pagar as suas contas. Estamos neste momento há quase três meses sem trabalhar e sem rendimentos.”

Fernando conta como a decisão do Governo foi recebida com grande surpresa, pois esta área trata-se de “uma das áreas económicas já mais bem preparadas para lidar com doenças infecto-contagiosas e contaminação cruzada”. A incompreensão perante o decidido cresce quando “por exemplo Cabeleireiros e Estética voltavam ao ativo. Nada contra essas áreas de negócio que têm tanto direito a lutar pela subsistência e negócios como qualquer um, mas que todos temos de admitir vão ter um volume muito maior de pessoas e não têm nem nunca tiveram uma preparação sequer comparável de higiene ou de contaminação cruzada que qualquer estúdio profissional da área tem e já tinha antes desta ameaça.”

O tatuador considera que os tatuadores e piercers, em Portugal, continuam a não ser entendidos como profissionais acreditados e formados, “existe uma falta de legislação preocupante no setor ao contrário do que já acontece em outros países da Europa. Algo que já deveria ter sido implementado.” A isto acresce um grande “desconhecimento por parte dos Órgãos de Soberania em Portugal e até de muitas pessoas em geral, sobre as práticas e o funcionamento de um estúdio de tatuagem, o que nos deixou a todos de fora do Plano de Desconfinamento agregados a Spas e Termas por exemplo, atividades que em nada se assemelham à nossa. Fiscalmente até há bem pouco tempo éramos agregados à Estética ou à Prestação de Serviços partilhando o mesmo Código de Atividade Económica, sendo que alguns profissionais e estúdios continuam ainda hoje em dia com esse registo fiscal por ainda não terem alterado o mesmo para “tatuagens e similares”. Enquanto estas atividades puderam regressar ao ativo com medidas excepcionais de segurança, nós fomos deixados para trás sem data de reabertura à vista.”

Questionado sobre quais as medidas de segurança e nível de preparação para uma eventual reabertura, Fernando responde que os profissionais da área se sentem “preparados para fazer frente à ameaça e garantir a nossa segurança e a dos nossos clientes. Somos uma área que como já referi sempre lidou com contaminação, talvez até das que menos tivesse a mudar nas suas rotinas de trabalho para se adaptar a esta nova realidade.”. Essas rotinas consistem em medidas que já eram colocadas em prática no período anterior à pandemia, o que torna estes profissionais particularmente preparados para uma reabertura nesta fase. Incluem a “desinfecção e esterilização de utensílios, superfícies e local de trabalho em geral, o isolamento de todos os pontos de contacto com o cliente ou os resíduos criados durante o processo de trabalho, práticas de prevenção de contaminação cruzada e assepsia, materiais descartáveis esterilizados, utilização de equipamentos de proteção individual, bem como isolamento e recolha de resíduos e materiais contaminados por empresas certificadas”.

“Neste momento a angústia começa a vencer”, os profissionais do sector sentem-se abandonados e com um sentimento de grande incerteza em relação ao futuro. Já existem “pessoas a passar necessidades e sem conseguir sustentar as suas famílias e muitos a caminharem a passos largos para o mesmo destino.” Com a sensação que esta incerteza sobre a reabertura poderá significar a ruína total do setor económico”, Fernando tem esperança que que tatuadores e piercers possam “ser considerados e passar ao Governo a confiança de que temos a capacidade de garantir a segurança de todos na nossa atividade. Esperamos ser considerados profissionais de uma área económica e deixar de ser agregados a outras sem qualquer sentido a que nada somos semelhantes. Não somos um bem essencial mas é essencial a nossa hipótese de subsistência e das nossas famílias. Não queremos apoios nem esmolas, queremos trabalhar!”

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