Ambientalistas propõem retirar 20 barreiras e açudes no Douro

Rio Tâmega
Rio Tâmega – Fernando DC Ribeiro | Flickr
O GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e do Ambiente vai propor ao governo a remoção de barreiras e açudes obsoletos em 5 afluentes do rio Douro para assim impedir o desaparecimento de espécies nativas. 

De acordo com o semanário Expresso, um estudo liderado pelo GEOTA – Grupo de Estudo de Ordenamento do Território e do Ambiente vai propor à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a remoção de 20 barreiras e açudes obsoletos em cinco afluentes do rio Douro. 

O estudo foi realizado nos últimos dois anos pela Associação Natureza Portugal, em parceria com as universidades do Porto (UP) e Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e o Instituto Politécnico de Bragança, e revelou que existem mais de 1200 barreiras na bacia hidrográfica do rio Douro que colocam em risco dezenas de espécies nativas como a enguia e a lampreia, já que travam o curso da água e comprometem a biodiversidade da maior bacia hidrográfica da Península Ibérica. 

Para o GEOTA, a construção de 57 grandes barragens no rio Douro e nos seus afluentes “causa um enorme constrangimento” para a migração da comunidade piscícola local. A mitigação deste efeito, segundo Ricardo Próspero, coordenador científico do GEOTA, consegue-se com a retirada progressiva de barreiras e açudes inúteis, dos quais “25% estão obsoletos ou semi destruídos, servindo apenas para potenciar a deterioração da água e dos habitats ribeirinhos”. 

Ricardo Próspero adverte que as espécies nativas emblemáticas do Douro estão perto da extinção, como já aconteceu com o esturjão do Douro na década de 70. O coordenador científico da GEOTA refere que “é notório o impacte que as barragens têm no ciclo natural e na integridade ecológica dos rios, que no caso do Douro é já alarmante”. Para além da proposta de remoção de barragens obsoletas, o GEOTA vai propor a criação de reservas naturais fluviais para promover a resiliência dos ecossistemas. 

Manuel Lopes Lima, biólogo do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da UP diz que “já não existem espécies endémicas, mas apenas invasoras” no Douro. O CIBIO encontrou 175 locais da bacia hidrográfica onde ainda existem “santuários de peixes nativos”, sobretudo nos rios Tua, Côa, Arda e Paiva.

O biólogo afirma que “as espécies invasoras concentram-se no troço principal do Douro, onde predominam as albufeiras das grandes barragens” e aponta como espécies em risco a lampreia, enguia, salmão ou a savelha, e o mexilhão-de-rio. “A lampreia e a enguia já quase não existem à montante da barragem de Crestuma/Lever”, frisa Lopes Lima. 

Rui Cortes, do Centro de Investigação de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD, considera que o Estado deve tomar medidas para preservar os habitats. Refere que “o próximo passo é identificar os proprietários, pois há açudes e moinhos privados, alguns dos quais emigrados”. 

O investigador da UTAD contabilizou 1201 barragens nas 30 sub-bacias do Douro, sendo o Tua e o Tâmega os mais afetados. Informa ainda que “do total, identificaram-se 165 como candidatas a remoção e criou-se um ranking de 20 prioritárias”. 

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