Após falecer, em 1973, Dona Georgina Loureiro deixou várias propriedades à Fundação D. José da Cruz Moreira Pinto, hoje Fundação São José, que tem origem na Diocese de Viseu. Na Vila Dianteira, em São João de Areias, era para ser construído um lar de idosos, mas nada foi feito.
Na dissertação de André Filipe Gonçalves Lopes, aluno da Universidade da Beira Interior, intitulada como “Arquivo Distrital de Viseu: tratamento do fundo do Morgado de Loureiro” podemos ver que Georgina da Conceição da Costa Loureiro é apontada por alguns investigadores como a última representante da família dos Loureiros, considerada como a sobrinha neta do último morgado. Georgina nunca casou e portanto não teve descendentes, tendo falecido no ano 1973.
O património do Morgado de Loureiro era constituído por inúmeras propriedades situadas, sobretudo, na freguesia de Silgueiros, no concelho de Viseu, mas também em São João de Areias, no concelho de Santa Comba Dão, em Papízios, no concelho de Carregal do Sal e na Lageosa do Dão, no concelho de Tondela.
Quando Dª. Georgina faleceu, deixou em testamento todas as propriedades que detinha à Fundação D. José da Cruz Moreira Pinto, hoje Fundação São José. Esta Fundação tem ligações à Diocese de Viseu e ainda hoje explora alguns dos bens herdados, como a Quinta dos Carvalhiços, em S. Miguel do Outeiro. Na casa da Quinta funcionou um Jardim de Infância que acolhia as crianças da localidade e atualmente encontra-se em fase de requalificação, pode ler-se no site da instituição. Mas muitas das propriedades recebidas foram vendidas sem sequer ter sido cumprido o que foi acordado, como é o caso da Quinta que detinha na Vila Dianteira, na freguesia de São João de Areias.
Tal como nos mostra o professor António Neves, no site que criou com informação relativa à história e vida da Vila Dianteira, a propriedade em questão, com a sua enorme casa, é um resultado de várias construções que remontam a diversas épocas. Esta quinta pertencia aos antigos capitães-mores de São João de Areias, nomeadamente a Valeriano Ribeiro Rozeuma e Brito, ao seu filho João de Brito Ribeiro e Almeida e aos filhos deste, Valério Inácio de Brito Ribeiro e Almeida Castelo Branco e João Homem de Brito Ribeiro Almeida Castelo Branco.
A casa localizada na Vila Dianteira tinha um elevado valor patrimonial, como exemplo a sua capela datada da segunda metade do século XVIII, que atualmente está completamente destruída.
Relativamente a esta propriedade, no testamento da Dª. Georgina estava especificado que a Fundação teria a “obrigação de criar e manter (..) um asilo para velhos em Vila Dianteira” (transcrição do testamento, página 4), mas tudo isto foi incumprido, já que a propriedade acabou por ser vendida.
Não se conhece até à data qualquer ação, tanto da Junta de Freguesia de São João de Areias, como da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, ou posição sobre o assunto.
A população de Vila Dianteira movimentou-se no sentido de que se cumprisse o testamento de Dª. Georgina. Esta atitude foi motivada porque, na altura, dizia-se na aldeia que tanto a Junta de Freguesia de São João de Areias, como a Câmara Municipal de Santa Comba Dão nada tinham feito para que se criasse o “asilo para velhos” em Vila Dianteira e que estariam mais interessadas em trocar este bem de apoio social pela legalização dos terrenos para a Junta de Freguesia e para o Campo de Futebol.
Segura de estar a lutar por aquilo a que tinha direito e pelo melhor para a sua localidade, freguesia, concelho e região (uma vez que o dito “asilo” não se destinava somente para pessoas de Vila Dianteira), a população reuniu-se em 1980 para a reivindicar o cumprimento do testamento de Dª. Georgina Loureiro.
Existiram várias exposições às entidades competentes por parte da população da Vila Dianteira, nomeadamente à Fundação, ao Centro de Segurança Social de Viseu, ao Provedor de Justiça de Lisboa, ao Procurador da República da Comarca de Viseu, ao Dr. António Arnaut e ao Procurador-Geral Adjunto do Tribunal da Relação de Coimbra, entre os anos 1980 e 1982. Vários viladianteirenses resilientes foram os que encabeçaram os anseios da população, eles são António Correia Relvas (já falecido), António Miranda Correia Relvas, Diamantino Oliveira Santos Costa e António Nunes da Costa Neves.
Entre 1982 e 1984 foi trocada correspondência entre o Procurador-Geral da República e o Centro de Segurança Social de Viseu e este com a Fundação. Na documentação é possível constatar vários mecanismos de deturpação e de fuga às responsabilidades das instituições. Na verdade, é clara a ajuda do Centro Distrital à Fundação e também é factual a omissão do Bispo de Viseu à altura, já que também foi confrontado pela população.
O Centro Distrital alegou ainda que iria proceder ao levantamento do número de idosos e criar uma valência com dois quartos, mas nada foi feito, nem a população da Vila Dianteira deu conta de qualquer levantamento.
Em 1997 foi inaugurado o Centro Social e Paroquial de São João de Areias, que ainda hoje funciona, e o professor António Neves deixou o seu comentário sobre o assunto num texto publicado no Defesa da Beira, datado de agosto de 1997.
O professor Neves, que tem deixado ao longo dos anos um grande contributo no acesso ao conhecimento da história e do património da freguesia de São João de Areias, mostrou o seu desconforto com a presença, no ato inaugural do Centro Social e Paroquial, do Bispo de Viseu e presidente da Fundação. Uma Fundação que defraudou as expectativas da população da Vila Dianteira e desonrou o legado da benemérita Dona Georgina Loureiro ao não cumprir o que tinha acordado.
Com a construção do novo lar no centro da vila de São João de Areias, as necessidades da população viram-se consagradas, mas os sonhos legítimos da população da Vila Dianteira nunca foram cumpridos. Hoje em dia, e depois da Fundação ter vendido a propriedade, a casa senhorial, tal como as restantes construções, estão completamente degradadas e os terrenos servem para a exploração de gado bovino.
Mais um exemplo do património que o concelho de Santa Comba Dão tem, neste caso a freguesia de São João de Areias, e mesmo com os inúmeros alertas da população preocupada e interessada na sua preservação nunca é ouvida.
Escrito por Diego Garcia com recurso à magnífica documentação e ajuda do professor António Neves e à dissertação de André Filipe Gonçalves Lopes, aluno da Universidade da Beira Interior, intitulada como “Arquivo Distrital de Viseu: tratamento do fundo do Morgado de Loureiro”.
Fonte:
- https://www.oocities.org/vdianteira/IlusoesDesilusoes.htm#TESTAMENTO%20QUE%20NUNCA%20FOI%20CUMPRIDO
- https://www.oocities.org/vdianteira/Civil-CasadeDGeorgina.htm?fbclid=IwAR0iQhP9e2CTJDv-ZL-62RNElgEpTR4V4n68zONIIHclV68elC2e2KG_5xM
- https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/3388/1/Arquivo%20Distrital%20de%20Viseu%20Morgado%20de%20Loureiro.pdf