Empresário que ofereceu dez milhões pela Dielmar acusado de burla e falsificação

José Cláudio Nunes inventou empresas e prometeu empregos falsos. Na última semana ofereceu dez milhões pela fábrica de Alcains. Por Esquerda.net
Dielmar
Foto por Beira Baixa TV | Facebook
José Cláudio Nunes inventou empresas e prometeu empregos falsos. Na última semana ofereceu dez milhões pela fábrica de Alcains. Por Esquerda.net

A assembleia de credores da Dielmar foi marcada por uma oferta de dez milhões de euros pela fábrica da Dielmar, em Alcains, uma proposta lançada pelo empresário José Cláudio Nunes. Em abril, o mesmo empresário foi acusado pelo Ministério Público pelos crimes de burla e falsificação.

Apresentando-se como um empresário ligado ao setor tecnológico, o alegado empresário fará 30 anos no próximo mês de Dezembro, mas tem já um rol de negócios e promessas que nunca chegam a ser concretizados, nomeadamente patrocínios para eventos culturais, tendo mesmo celebrado contratos de compra e venda para a aquisição de imóveis e estabelecimentos de diversão noturna.

O jornal Público contactou as pessoas que conhecem José Cláudio Nunes. De empresário “nada tem” em dinheiro ou ativos. “Vive com a avó e conduz um Twingo vermelho”. A avó de José confirmou ao jornal que ele não é empresário.

Considerando o passivo de 16 milhões de euros da empresa em falência, a proposta de 10 milhões de euros pela fábrica levantou suspeitas devido ao montante estar bastante acima das propostas feitas por outros concorrentes, nomeadamente a Outfit 21, de Leiria, que ofereceu 410 mil euros.

Segundo a ata dessa assembleia, José Cláudio Nunes falou durante cerca de uma hora. Garantiu que constituiria uma nova empresa para comprar a Dielmar. Pagaria, no imediato, dois milhões de euros para pagar os salários de Outubro; e mais oito milhões por todo o estabelecimento – dinheiro este que estaria depositado num banco em Portugal, afastando assim dúvidas surgidas naquela sala de tribunal sobre se estaria ali em causa um eventual movimento de lavagem de dinheiro com o financiamento da compra com dinheiro vindo de uma praça offshore.

Segundo o processo que vai a julgamento no Tribunal de Viseu, durante o ano de 2019, o alegado empresário celebrou contratos de trabalho com três jovens, propondo-lhes um salário na ordem dos 1500 euros ilíquidos e a integração numa equipa de trabalho que iria trabalhar “à escala internacional”.

Cada um cedeu os dados pessoais e recebeu um alegado contrato, para funções diversas, celebrado com a empresa Violetriver, que integraria uma sociedade chamada Lazarus Group. Este último nome, aliás, é referenciado numa página de Facebook que tem o nome de José Cláudio Nunes. Mas estas sociedades não existem. Ainda hoje, as referências na Internet ao Lazarus Group remetem para um grupo de cibercrime que, segundo o FBI, tem ligações à Coreia do Norte.

De acordo com a acusação, o arguido entregou aos queixosos um documento em que discriminava as funções de cada um, as condições de trabalho, o organograma e o email. Cada um destes endereços electrónicos tinham, no entanto, o domínio hotmail.com e não um domínio com o nome da empresa ou do grupo que alegadamente estava a financiar estas supostas contratações.

Para o Ministério Público, “o arguido condicionou, com o seu comportamento, a vida pessoal e profissional dos queixosos”, uma vez que alguns dos enganados recusaram outras ofertas de trabalho durante o tempo em que estiveram com José Cláudio Nunes.

Publicado por Esquerda.net a 2 de novembro de 2021

Dielmar: trabalhadoras exigem salários de outubro e marcam novo plenário

Trabalhadoras da Dielmar em luta pela salvaguarda dos postos de trabalho

1 comment
Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts
Ler Mais

Bancas sem JN pela primeira vez em 35 anos

A paralisação de 48 horas dos trabalhadores do jornal começou em força. Em causa estão o despedimento coletivo de entre 150 a 200 trabalhadores do Global Media Group, salários em atraso e as condições de trabalho na nova sede do JN. Em comunicado, a administração diz que quer evitar "a mais do que previsível falência do grupo".
Skip to content