Intitulada de “Rua do Carmo”, a exposição fotográfica produzida pelo espaço Carmo 81 sob a orientação do fotógrafo Rafael Farias, em parceria com a AVISPT21, inaugura no próximo dia 30 de março, no Carmo 81.
A rua do Carmo, contígua à Rua Direita, é o palco e a premissa deste projeto artístico que durante vários meses de trabalho juntou a comunidade de pessoas que vivem e trabalham naquela rua e pessoas portadoras de Trissomia 21 da AVISPT21.
Rafael Farias explica que a ideia começou por trabalhar a própria rua, o seu abandono e falta de pessoas de que os comerciantes se queixam, muito em parte devido ao facto de a rua Direita estar praticamente desabitada e ter pouco comércio. “Nos últimos 10 anos foi cada vez mais sentida essa falta de comerciantes na rua Direita. A rua do Carmo, por consequência, aconteceu exatamente a mesma coisa. No entanto, apesar de tudo e contrariamente à rua Direita, o comércio na rua do Carmo continuou a existir e as lojas estão abertas. Mas a quantidade de pessoas que frequenta a rua do Carmo tem vindo a diminuir.”, refere o fotógrafo de 32 anos.
O artista sublinha que uma das vantagens da rua do Carmo é ter “um comércio bastante específico. Existem bastantes casas e lojas na rua do Carmo que têm um tipo de comércio e prestam um tipo de serviço que continua a ser único e não há assim tantas lojas a fazê-lo nas restantes ruas do centro histórico de Viseu.”
“A integração e a parceria com a AVISPT21 e com as pessoas portadoras de trissomia 21, é uma parte muito importante deste projecto, uma vez que reflete a integração e o preconceito contra estas pessoas no mercado de trabalho.”
“Por vezes ainda existe o estigma de que ‘se tens deficiência não podes trabalhar’.” O projeto “Rua do Carmo” acaba por ligar essas dificuldades, quer dos comerciantes quer das pessoas com Trissomia 21 que sentem uma maior dificuldade na integração em contexto laboral.
A AVISPT21 desenvolveu este projeto “intensamente entre três a quatro meses” em conjunto com Rafael e o Carmo 81. Entre reuniões e oficinas de artes, “onde o incentivo era a prática da fotografia”, eles iam ajudando a fazer as fotografias com a orientação de Rafael. O objectivo era “tentar estimular para que eles trabalhassem a prática da fotografia, sendo fotógrafos, diretores de arte ou assistentes de fotografia, ou seja, desenvolvemos várias atividades onde a fotografia estava sempre inserida de algum modo, fosse numa questão de encenação ou de trabalho de campo. Depois desse processo partimos então para as visitas às lojas da rua do Carmo, onde estivemos com os comerciantes e aí deslocamo-nos todos.”
Depois de fazerem um mapeamento das lojas da rua do Carmo que ainda estariam abertas e depois de várias visitas às mesmas, começaram a perceber o que é que as pessoas da AVISPT21 “gostariam de fazer ou se viam a fazer se tivessem de trabalhar naquelas lojas”.
“Entre gostos e sonhos, acabamos por fazer uma seleção e trabalhar toda esta questão em conjunto. Alguns deles tinham o sonho de ser DJ e aí tínhamos o Carmo 81 como a ponte para fazer crescer essa vontade. Outros tinham a ambição de ir à loja do Benfica, por exemplo, outros tinham curiosidade em ver como era um cabeleireiro, outros tinham curiosidade em trabalhar numa cozinha. Começamos a fazer essa seleção de perceber onde é que nós nos podemos entreajudar, entre a fotografia e esta questão social e a questão da integração.” Tanto eles como as próprias pessoas que frequentam este comércio da rua do Carmo foram fotografadas.
A apresentação pública da exposição fotográfica “Rua do Carmo” acontece no próximo dia 30 de março, pelas 16h, no Carmo 81.