Para começar esta colaboração com o Interior do Avesso, achei que teria de começar por falar de um produto tão único e apreciado por todos nós
Para percebermos a alimentação no Interior, temos de ter em mente a importância do Pão.
Em tempos idos e quando mais nada havia que comer, o pão por ser de fácil acesso, ajudava a aliviar alguma fome que existia. A Pão chamava-se àquele feito de centeio,tão hoje na moda por ser mais saudável, mas que na altura, era o escolhido por ser o cereal mais abundante. Para o de trigo a denominação seria o próprio nome “trigo”.
Como sabemos o pão não é nada mais que farinha, sal e água, ingredientes simples, daí a sua grande popularidade, pois para o povo em geral seria relativamente fácil juntar estes produtos, muitas das vezes sem fermentação sequer, e aí o pão ficava achatado e sem volume.
A minha avó contava que os vendedores que vinham de terras longínquas pernoitavam no forno que ela geria, pois era um local que devido ao seu uso diário se mantinha quente e aprazível a quem do frio se escondia, ficas com um peixe e eu abrigo me das geadas, seria mais ou menos assim.
Na gastronomia popular do interior o pão acompanhava com tudo, batatas, feijão, pedaços de carne (em dias de festa), com peixe de rio, e em pratos em que seria o ingrediente principal tais como açordas, algumas sopas, tibórnias, ensopados ou migas.
Acho que está na hora de deixar a conversa de lado e partir para a acção:
Pegue numa fatia de bom pão, centeio, trigo ou broa, grelhe-o dos dois lados, se possível ao lume, de seguida regue-o generosamente com azeite, uma pitada de açúcar, mais uma de canela, finalize com sumo de uma sumarenta e doce laranja.
Aqui tem uma saborosa tibórnia, tão portuguesa e tão característica deste interior verdadeiro e autêntico.
Para ser perfeito, que seja num lagar.
31 anos, natural do Alcaide, concelho do Fundão, Chef de cozinha, desde sempre interessado e ligado à cozinha regional portuguesa nomeadamente na zona do interior, já que mais não seja por vir de famílias ligadas à cozinha e ao fabrico de bolos e pão na sua terra natal.