Cooperação linguística entre Portugal e Espanha continua a esquecer a questão galega

Península Ibérica
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Foto por Jacques Descloitres, MODIS Rapid Response Team, NASA/GSFC / Public domain
A última Cimeira Ibérica, realizada no dia 10 de outubro na Guarda, juntou governantes de ambos países, Portugal e Espanha, como em todos os anos desde 1983, para apresentar projetos de cooperação nos mais variados assuntos. Foi divulgado o estudo “A projeção internacional do espanhol e do português: o potencial da proximidade linguística”, elaborado pelos institutos Cervantes e Camões.

Os resultados do estudo referem que, juntos, os idiomas aproximam-se atualmente da liderança linguística mundial do inglês em quase todos os parâmetros considerados. Os governantes de ambos os países prontamente se disponibilizaram a trabalhar na cooperação linguística do espanhol e do português. 

Pedro Sánchez chegou a afirmar que “o estudo linguístico para assinalar que a proximidade de ambas línguas representa uma riqueza que não devemos desdenhar”. O presidente do governo espanhol até deixou umas palavras positivas da possível adesão de Espanha à CPLP, como observador associado. 

A cooperação linguística entre Espanha e Portugal continua a esquecer a questão da língua galega e a necessidade de a galvanizar, por uma questão estratégica e de sobrevivência.

São nestes eventos de cooperação e diálogo que deveriam ser colocadas em cima da mesa as questões verdadeiramente importantes, questões com peso histórico e com potencial cultural, social e económico com o objetivo solidário e agregador como o seria a aproximação do galego à Lusofonia. A questão da língua na Galiza deveria ter um papel primordial também nestas cimeiras, mas continua a ser esquecida e desprezada pelo Estado espanhol e português. 

A CPLP continua a desvirtuar-se. Não é uma verdadeira Comunidade de Países de Língua Portuguesa e o aproveitamento do elo de ligação, a língua, não existe.

Temos o exemplo da Guiné Equatorial, uma antiga colónia de Espanha e onde só se ouve falar espanhol nas ruas. Neste país, o português foi oficializado em 2010 com o objetivo explícito de entrar na CPLP como membro permanente e teve a obrigação de começar a ensinar o português nas escolas, mas nada foi feito. Tal como a obrigação da abolição de pena de morte que só teve uma proibição temporária através de um decreto presidencial. A entrada foi por questões económicas, de abertura comercial aos países lusófonos e para ter um certo reconhecimento internacional. 

Agora é a Espanha que aguarda a sua entrada como observador associado, possivelmente às custas da língua galega, mas o Estado espanhol continua a não lhe dar a verdadeira importância e a impedi-la de voltar ao seu lugar, à Lusofonia.

Cabe também a Portugal e à sociedade portuguesa exigir o direito da Galiza de pertencer à CPLP, contrapondo com a Guiné Equatorial ou com a Espanha, que nada têm a ver com a Lusofonia nem têm pontos de aproximação culturais ou linguísticos. 

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Diego Enrique Rodrigues Garcia, nasceu no dia 1 de Agosto de 1992 em Ourense, na Galiza. Desde 2009 que reside continuamente em Portugal, na região da Beira Alta.
Ativista social e independentista galego, está ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Dirigente do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu
Atualmente a realizar uma licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta.

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