É um lugar comum dizer que Portugal é um país à beira-mar plantado. Nem toda a gente parece saber, mas Portugal situa-se num dos extremos da Europa com uma enorme zona económica exclusiva. A maior parte do país – espantem-se alguns – é mar! A zona económica exclusiva de Portugal é uma das maiores do mundo 1.
Quase todos também sabemos que Portugal tem vocação para o mar, bem expressa na era dos descobrimentos. E seguindo esta linha de raciocínio, seríamos levados a aceitar como natural que a maioria dos portugueses e do desenvolvimento económico se situe no litoral do país. Segundo dados do portal PORDATA referentes ao ano de 2017 podemos verificar que os maiores números médios de indivíduos por quilómetro quadrado se situam na área metropolitana do Porto (842,3 indivíduos/km2) e na área metropolitana de Lisboa (937,7 indivíduos/km2) 2. Com base no critério da densidade populacional o resto do país está perto de ser apenas e só paisagem. Se olharmos também para a dívida total das câmaras municipais verificamos que a área metropolitana do Porto em 2017 tinha dívida de 738848987 euros enquanto a área metropolitana de Lisboa tinha dívida de 958491124 euros 3.
Se consideramos que em 2017 a dívida total dos municípios se situava em 4644539356 euros então qual é a percentagem destas duas áreas metropolitanas juntas? “É fazer a conta” e com uma mera calculadora de bolso verifico que perfaz – por favor corrijam-me se eu estiver errado, não sou matemático nem economista e não digo “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas” – 36,5% do total da dívida dos municípios do país.
Com este simples exercício de álgebra decorre que as zonas onde existe maior densidade populacional correspondem aos locais onde há mais dinheiro com impacto significativo na dívida. Uma vez que a maior parte do país é mar podemos ser levados a pensar que alguém poderá estar a meter demasiada água.
De forma a termos um país com futuro é importante reforçar a coesão territorial entre o litoral mais rico e o interior mais pobre. E como podemos reforçar esta coesão? Povoando as regiões desertificadas. Dotando-as de recursos humanos e das verbas necessárias que possibilitem a criação de mais oportunidades. Tudo isto já é sabido, existindo já um programa nacional para a coesão territorial 4. Feito o diagnóstico, identificado o problema e conhecida a solução o que é necessário fazer? É necessário passar das palavras para as ações, criar as condições para que o programa nacional para a coesão territorial seja exequível. É verdade que vivemos num tempo onde as distâncias são encurtadas devido às novas tecnológicas e às infraestruturas ferroviárias e rodoviárias de que Portugal atualmente dispõe.
Também a ferrovia necessita de investimento tendo o Bloco de Esquerda apresentado Plano Ferroviário Nacional 2020-2040 5. Espero viver o suficiente para que um dia Portugal seja visto como um todo, sem termos de pensar nele como estando inerentemente repartido entre litoral e interior.
Natural da Covilhã e aderente do Bloco de Esquerda. Desempenhou funções em associações de estudantes, desportivas, científicas e de desenvolvimento local. Atualmente é doutorando em Biologia na Universidade do Porto.