A Casa do Douro e as lágrimas de crocodilo. 

Autor: Eduzinas Licença: https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/ Link original: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ervedosa_do_Douro#/media/Ficheiro:Ventozelo_-_Ervedosa_do_Douro.jpg
Foto por Autor Anónimo

O Bloco de Esquerda tem acompanhado, muito de perto, todo o processo da Casa do Douro (CD) e foi apresentando várias propostas que, antes da extinção, visavam a sua salvação, e, depois, a sua re-institucionalização. Os viticultores durienses lembram-se bem que governos os prejudicaram, e os trabalhadores da CD, melhor ainda, quem esteve do seu lado quando chegaram a ter 33 meses de salários em atraso. Mas se calhar muita gente não se lembra, por isso, e ao contrário dos que tentam esconder, nós achamos que vale a pena revisitar o passado e lembrar um histórico que, além da gestão negligente, é rico em opções políticas danosas.

A primeira grande machadada nos viticultores remonta a 1980, governo PSD/CDS, quando a lei 43/80 legalizou as vinhas que haviam sido plantadas até ao ano anterior, aumentando por isso a área de cultivo total, obrigando à redistribuição do benefício pelas novas plantações e, por sua vez, fazendo também baixar o preço da pipa. Uma espécie de “trickle down”, mas ao contrário, que num par de anos levou 50% do rendimento de quem não tinha os meios para, ou, pior, adivinhou que poderia, plantar vinhas até 1 ano antes da lei sair. Depois de vários negócios ruinosos na compra de vinhos, em 1990 a Casa do Douro abre um buraco de cerca de 50 milhões de euros para salvar a Real Companhia Velha da falência. Dividendos, nunca os teve. A perda de valências para a o IVDP combinada com 15 anos de gestão do ex-deputado do PSD – Manuel António Santos, arruinaram a CD. É por isso que em 2010 o BE elabora o projecto de resolução 342/XI/2ª que exigia ao governo a salvação da CD, e que estaria depois veementemente contra a sua extinção e privatização, em 2014, em mais um governo PSD/CDS. Em 2015 foram estabelecidos acordos com o governo PS e com o PCP que levariam à lei 73/2019 que re-institucionaliza a CD. Lei essa que primeiro foi vetada pelo Presidente da República e depois enviada por PSD e CDS para o Tribunal Constitucional, para este chumbar algo que desde 1976 nunca tinha sido inconstitucional. A demora na marcação de eleições não isenta o atual governo de culpas, e, noves fora, facilmente se percebe quem é que por um lado esteve, sempre, presente na sabotagem à CD, e quem esteve, sempre, do lado do Douro. Não vale a pena andar com rodeios. Os objectivos deste enredo são enfraquecer os pequenos e médios agricultores, através da liberalização do mercado que a CD regulava, e passar as reservas de vinhos a preço da chuva para as grandes casas exportadoras. Resta dizer que o património da CD ultrapassa largamente a dívida atual e que este é só mais um exemplo clássico das políticas neoliberais das últimas décadas, que emagrecem o Estado, prejudicam as classes média e baixa, e favorecem o grande capital. Que não restem portanto dúvidas sobre qual é a posição da candidatura do BE aos órgãos autárquicos de Peso da Régua sobre esta matéria. Lutaremos, sempre, pelos interesses dos viticultores e da região e ficamos por isso felizes ao ver os candidatos adversários deste lado da barricada, mesmo indo contra a posição dos seus próprios partidos. Bem vindos, por cá vos esperamos nas demais lutas.

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Vasco Valente Lopes, 37 anos, nasceu a 21 de Dezembro de 1983 no Peso da Régua, onde viveu até aos 14. Reside agora em Santa Marta de Penaguião. Estudou na Escola Secundária Dr. João de Araújo Correia até ingressar em 2001 na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no curso de Enologia. É hoje Enólogo em várias Quintas da Região Demarcada do Douro, produtor e DJ de música electrónica. É candidato pelo Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Peso da Régua.

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