Sapadores Florestais: Profissionalização ou Extinção

Sapador Florestal

Todos os dias assistimos a camaradas, colegas e amigos, que deixam a vida de sapador florestal para se dedicarem a outros trabalhos que lhes garanta um salário justo face ao seu trabalho. É uma triste realidade vermos, este capital humano a deixar este trabalho, quem fica em breve estará na reforma e todo setor estará condenado à sua extinção.

Quem é mais jovem não se sujeita a este tipo de trabalho, de inverno debaixo de chuva e frio em terrenos sinuosos, numa carrinha que leva cinco pessoas sem ter condições para mudar de roupa, no verão a trabalhar debaixo de 30º/35º em encostas de serras com inclinações de 70%, com uma máquina às costas que pesa 15kg, sujeito a todos os riscos naturais e mecânicos.

Para além dos trabalhos de prevenção estrutural contra incêndios, os sapadores florestais também atuam na primeira intervenção a incêndios rurais, apoio ao combate, ações de rescaldo, vigilância e verificação de perímetros.

E ainda podemos acrescentar que também estão na linha da frente em ações ligadas à Proteção Civil, para além das funções de jardineiros, cantoneiros, trolhas, arrumadores de carros, apoio a eventos, o sapador florestai faz tudo e mais alguma coisa.

Tudo isto pelo simples ordenado de 665€, mão de obra barata e precária, com o alto patrocínio do Governo, o programa de sapador florestal existe há 22 anos e precisa de ser atualizado aos tempos modernos e à realidade das nossas florestas e dos seus trabalhadores.

Este modelo apenas serve as entidades patronais sem escrúpulos que negam o pagamento do salário, que abusam constantemente dos direitos dos seus trabalhadores, que se baseiam em práticas esclavagistas para tomar o controlo da liberdade de pensamento dos trabalhadores, condicionam a sua liberdade com recurso a ameaças constantes de despedimentos, processos disciplinares e a leis fictícias que apenas servem para intimidar quem ousa pensar de forma livre e sem condicionalismos.

A regulamentação da profissão a Carreira e o Estatuto, são uma urgência nacional e garantem a continuidade dos sapadores florestais, o seu rejuvenescimento e o seguimento do seu trabalho em prol de todos nós. Num estado de direito não pode haver discriminação como acontece todos os dias com estes trabalhadores, marginalizados face a outras forças, são os únicos a estar na floresta no inverno e no verão, da silvicultura aos incêndios quem mais faz este trabalho? Ninguém, apenas os Sapadores Florestais.

1560 000 000€ aprovado em março no Conselho de Ministros dedicado à floresta, em média dá 260 milhões de euros por ano até 2027, não é por falta de dinheiro que condicionará a profissionalização dos Sapadores Florestais, dotando-os de Carreira e Estatuto Profissional, com um aumento salarial justo face ao trabalho realizado, com atribuição do subsídio de risco e com a classificação de profissão de desgaste rápido.

Dinheiro não é problema, o problema são as velhas políticas que favorecem quem tudo tem em prejuízo de quem nada tem.

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Natural da Guarda a residir em Viseu. Sapador Florestal da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões. Coordenador Nacional do Setor da conservação da natureza e florestas do Sindicato Nacional da Proteção Civil, membro do secretariado executivo e do secretariado nacional. Estudante do Curso Técnico Superior de Proteção Civil na Escola Agrária de Viseu. Escreve uma crónica no portal dos bombeiros.pt. Esteve sempre ligado à conservação da natureza e florestas.

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