O problema não é das palavras, é das pessoas

Normal vs anormal/não normal

Muitas das vezes damos por nós a discutir as palavras com pessoas que concordam connosco, mas percebem os conceitos de formas diversas.

A culpa dos conceitos de normalidade e anormalidade serem usados e abusados como o certo e o errado é que está mal, não a definição das palavras. Estatisticamente, o normal é o comum, e o que não varia de uma maioria próxima de 68% da população que tende a agir ou ser de determinada forma, segundo a Distribuição Normal de Gauss, em casos específicos em que ela pode ser aplicada. Fugir a esta regra e ser “não normal” ou anormal não é em si um problema, o problema é a forma como as pessoas usam a normalidade como algo positivo e a anormalidade como algo negativo. Ter 1 metro e 90 centímetros não é estatisticamente normal. É um problema? Segundo a forma como muitas pessoas veem os conceitos seria um anormal, ou seja, uma coisa má. Ter um QI de 150 não é normal, é na verdade, estatisticamente bastante anormal. É um problema? Alguém tende a considerar a anormalidade de Newton ou Einstein como pejorativa? Então porque é que em outras circunstâncias não existe a mesma simbiose entre conceitos.
Dir-me-ão e bem…” Não somos estatística, somos pessoas” e aí reside a grande questão.

A inimiga não é a linguística nem a matemática. Somos nós, enquanto sociedade que definimos certo e errado e comparamos como normal e anormal.
Nem sempre as maiorias estão certas, é um facto que ao longo da história fomos percebendo isso inúmeras vezes. Poderei até dizer que a maioria das vezes a normalidade não era fator de certeza nem de verdade.

Se por outro lado me disseram que: “Não é normal ser corrupto” Espero sinceramente que estejam certos, mas se estatisticamente for mentira, vamos começar a considerar os corruptos os bons da fita e os outros os maus/anormais?

Somos ser humanos e definimos a nossa vida e as nossas escolhas como bem queremos, somos tão diferentes, que por isso, considero que Darwin estava certo relativamente às restantes espécies, mas relativamente aos humanos não podemos considerar a lei da selva e a seleção natural. Se somos uma sociedade, devemos funcionar como um todo, interagir com os outros, ajudar quem precisa e sermos ajudados quando precisamos. Lembrem-se que se formos analisar estatisticamente normalidade e anormalidade em tudo na nossa vida, todos nós somos normais umas vezes e anormais outras. Continuem a usar as palavras como eu as continuarei a usar porque gosto delas, mas, por favor, não caracterizem pessoas erradamente, recorrendo alegadamente à estatística, porque isso sim é “pejorativamente” anormal.

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Jóni Ledo, de 32 anos, é natural de Valtorno, concelho de Vila Flor. É licenciado em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição onde também concluiu o Mestrado em Psicologia da Educação. Frequenta atualmente o 3ºano da Licenciatura em Economia na mesma instituição. Foi Deputado na Assembleia Municipal de Vila Flor pelo BE entre 2009 e 2021. É ativista na Catarse | Movimento Social e cronista no Interior do Avesso. É atualmente dirigente distrital e nacional do Bloco de Esquerda. É atualmente estudante de Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade da Beira Interior.

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