O bullying é uma manifestação cobarde, de indivíduos que têm a necessidade de maltratar, humilhar, rebaixar outros para alimentar o seu pequeno ego, para sentirem poder. Esta necessidade de humilhar, dominar e intimidação está intimamente relacionada com a sua pobreza de carácter e com o seu fraco autoestima. Ou, pura e simplesmente, não têm empatia para com os outros, como é habitual no narcisismo ou sociopatia.
O bullying não está meramente presente nas escolas e entre os mais novos. Está presente na sociedade, nas famílias, no espaço laboral e no próprio parlamento. Indivíduos que usam a sua posição social e hierarquia para menosprezar, difamar, excluir, maltratar e traumatizar outros.
Uma violência verbal, física, emocional e psicológica contínua e intencional, com alvos escolhidos devido a raça, religião, género, aparência, orientação sexual, classe social, entre tantas outras desculpas. Mas, na verdade, o bullying é apenas e somente ódio e para odiar, não há razão necessária; o ódio é a sua própria razão.
O bullying é meramente um sintoma, não a doença, essa está dentro de nós, seres humanos. Mas também está a cura.
Há uma lenda nativo-americana Cherokee que afirma a existência de dois lobos dentro de todos os seres humanos. O lobo bom, a luz, o amor, o perdão, a positividade; e o lobo mau, o rancor, o ódio, a vingança, a negatividade. Todos os dias esses dois lobos lutam até a morte. Não é o mais inteligente, nem o mais forte, nem o mais astuto que vence. É aquele que alimentamos mais. Todos, sem excepção, temos sempre a opção de curar traumas, modificar comportamentos, analisar formas de pensar, rejeitar ideias tatuadas no nosso subconsciente, de fazer diferente, ser melhor.
Não é necessário insultar, ameaçar, plantar rumores ou usar a chacota ou humilhação para nos sentirmos especiais. Somos todos uma tela pintada de características próprias, qualidades, defeitos, passado e tons tão únicos que criam uma obra de arte inigualável. E é isso que torna todos nós imprescindíveis e únicos, com tanto para oferecer ao todo, à sociedade, ao mundo. Se colocarmos o ego de parte, eliminamos a necessidade de superioridade para o alimentar.
Pessoas felizes, com uma forte autoestima e confiança nas suas capacidades e características não sentem a necessidade de magoar, provocar e destruir para ter poder e para dominar (ou ter a sensação de) terceiros.
Em 2021/2022, a PSP registou 2.847 ocorrências de bullying nas escolas. Algo está muito errado sobre o que estamos a ensinar às novas gerações.
Bruce Dickinson afirmou que “o bullying acontece porque pessoas fracas precisam de sustentar o seu ego, espancando e humilhando os outros”. Isto cria na vítima de bullying, feridas que nunca serão saradas, medos que permanecerão, insegurança que irá ditar a forma como irá escrever a sua história e danos físicos, mentais e psicológicos que a irão acompanhar, lado a lado, durante toda a vida. As consequências do bullying é como branding, uma imagem queimada no corpo, na alma e na mente impossível de remover.
Em 2006, uma jovem de 13 anos chamada Megan Meier suicidou-se depois de sofrer de cyberbullying por parte de um perfil falso criado e usado pela sua vizinha e mãe de uma colega de escola. Uma vida perdida, sonhos despedaçados, um futuro cruelmente destruído. Onde estaria Megan hoje, que vidas teria tocado, que futuro teria tido? Nunca saberemos, pois a sua vida foi-lhe negada e nem consigo imaginar a dor que sentiu ao ler “mundo seria melhor se não não existisses”.
O cyberbullying é apenas uma adaptação a evolução tecnológica e, através da desumanização e facilidade, o sentimento de inconsequência, está a ameaçar o local que deveria ser um porto seguro, o nosso lar. É imprescindível voltar a conectar com o que nos torna humanos e melhorar as nossas fraquezas, para assim, através de exemplo, inspiramos outros a fazerem o mesmo.
“O ser transcende a aparência assim que começas a descobrir o ser que há por trás de uma cara bonita ou feia, de acordo com os teus conceitos e preconceitos; as aparências superficiais desaparecem, até deixarem simplesmente de importar”, citação de “A Cabana” de William P. Young. Somos tão mais do que é visível, do que determinada característica e temos a capacidade imensa de agir positiva e correctamente para com o nosso semelhante, a sociedade e o mundo em geral.
Já é tempo de reconhecermos a diferença como algo positivo e razão de celebração, pois são as nossas diferenças que nos tornam únicos e é através da combinação de todas essas diferenças que será possível criar um mundo melhor.
Mas, como afirmou Martin Luther King, “ou aprendemos a viver como irmãos ou iremos morrer juntos, como idiotas”.
Elisabete Frade/Shenhua
Nasceu em Évora em 1981 e desde então passou por Arraiolos, Mem-Martins, Coimbra, Lisboa e Viseu.
Tirou um curso profissional de Turismo, um curso de Inglês para Empresas e uma Licenciatura em Relações Internacionais, especializando-se em Estudos Europeus, estagiando na Câmara do Comércio da Itália.
Morou quase uma década na Holanda, trabalhando numa empresa internacional organizadora de conferências para empresas e, mais tarde, na área da tradução para empresas internacionais e privados, tendo ido viver para a Escócia.
Regressou a Portugal e desde então é a cuidadora informal da sua mãe idosa.