Mesmo contra todas as possibilidades, lutamos pelo nosso Interior, o Interior das gerações que nos sucedem, e que muitas vezes parece condenado por efeito das políticas dos sucessivos governos. A verdade, é que a dualidade de um país se vai acentuando, enquanto se assiste a um insuficiente investimento em áreas fundamentais ao desenvolvimento e na melhoria da qualidade de vida de todos os portugueses. Para a maioria, pensar no Interior, é automaticamente associá-lo ao maior território do país, mas também àquela que é mais precário, cercado de baixos salários e conservadorismo. É importante então Semear Coesão! Encontramo-nos a preparar o futuro, as próximas semanas, meses e anos. Tal como para o crescimento de uma cerejeira, é preciso tempo para reverter a situação do Interior. Entre pragas e doenças, é essencial que não abdiquemos da mesma, pois quando esta der frutos, os mesmos poderão ser ainda mais saborosos. Se a quantidade não for a desejada, ainda assim existe uma certeza! A nossa horta estará mais bonita e florida do que há uns tempos atrás. É possível afirmar: Não temos nada a perder!
Pergunto: Nascer no Interior será ver o futuro e esperança desde logo sentenciados? Os últimos anos têm-me mostrado que não, aliás, esta sala é antagónica a essa conceção, onde diferentes gerações demonstram a jovens como eu que enquanto for possível, devemos lutar. Os sonhos que eu e outros jovens temos hoje, são os mesmos de muitas outras gerações que se encontram aqui representadas. Foram estes que nos ensinaram a amar esta região do país, e que há mais tempo suportam um território constantemente menosprezado, e por isso, mais perto da sua liquidação. A luta deve ser conjunta! Porque SIM, o Interior é muito mais do que simples mercadoria, que não traz retorno à população que aqui vive. Não nos esquecemos do caso das vendas das barragens da EDP em Miranda, às quais não foram cobrados os devidos impostos, ou das explorações mineiras que se vão instalando no Interior, em processos também eles muito pouco transparentes. Estamos a falar de “cicatrizes” profundas no campo ambiental, e que se prolongarão por gerações.
Não falta muito para festejarmos Abril, e a verdade é que ainda existem tantas liberdades por alcançar…Uma delas, é a de escolher viver no Interior, onde a falta de transportes públicos, o escasso investimento na ferrovia, as portagens, uma população envelhecida, as assimetrias no acesso aos cuidados de saúde, à habitação, um sistema educativo insuficiente e uma escassa oferta cultural, são alguns dos fatores que levam à desertificação e à conseguinte não fixação. Assim, numa população cada vez mais envelhecida, e por isso também mais conservadora, são ignorados movimentos e lutas sociais, das quais o desenvolvimento do Interior depende: Por isso, ser mulher no Interior, continua a ser um símbolo de determinação no que concerne às desigualdades salariais, à sobrecarga de tarefas domésticas e à falta de oportunidades profissionais. Uniformemente, a comunidade LGBTI+ continua a sair à rua, marchando pelo fim da opressão, contra as terapias de conversão, pelo direito à autodeterminação de género e pelo casamento com uma pessoa do mesmo sexo.
A desvalorização de uma região, tem consequências para todo o país, porque ao contrário do que a maioria pensa, esta deslocação das pessoas para o litoral, faz com que a qualidade de vida também aí diminua, não só devido às alterações climáticas, como também pela qualidade dos serviços prestados. O Interior é lembrado na altura dos grandes incêndios, e isso é um indicador de que fomos abandonados durante tempo suficiente para que as nossas florestas e campos não fossem salvaguardados.
Entre um constante esquecimento, contratos de exploração e prospeção mineira e culturas intensivas de eucaliptos, façamos da resistência, o acesso à saúde orientado para o doente, em que é fortalecido o papel das diversas áreas de intervenção e diagnóstico, e investindo em estruturas e recursos humanos. Uma educação que não seja marcada pela redução do número de escolas ou de turmas sem professores. Um exemplar ordenamento do território, concentrado na prevenção, na reflorestação, numa agricultura sustentável, e que permita que catástrofes como o Incêndio da Serra da Estrela ou de Pedrogão Grande não se repitam. A aposta em transportes públicos e numa ferrovia apta a satisfazer as gentes do Interior. O ensino superior capaz de atrair e fixar jovens. A cultura enriquecedora das práticas culturais dos cidadãos, da sua oferta, e das suas condições. Uma Quantidade de serviços Públicos, que não seja contraditório às necessidades de um território envelhecido. Uma regionalização democrática que combata o centralismo, e contrarie a desertificação e fragilidade económica. Uma habitação em número suficiente, e que não seja vítima da especulação mobiliária. Emprego de qualidade, com direitos e que se funda com a estabilidade.
Que hoje possamos sair deste Encontro, mais perto de fazer deste Interior, o Interior que todos e todas desejamos!
Pedro Mesquita, tem 22 anos e reside no Fundão.
É estudante de Ciências do Desporto na Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Membro da Comissão Coordenadora Distrital de Castelo Branco do BE e
elemento do Conselho Municipal da Juventude do Fundão.