Abril abriu as janelas para aqueles que mais precisavam respirar: finalmente, o nosso país experimentava uma revolução, quebrando barreiras e conquistando a liberdade de expressão, associação, reivindicação, saúde pública, um sistema de ensino verdadeiramente livre e muito mais.
No entanto, sabíamos que essa construção não se encerrava em Abril. Foi um processo constante ao longo de décadas de reivindicações persistentes: desde as vozes das mulheres que tentaram silenciar em Abril, até às milhares de pessoas LGBTQ+ que agora saem à rua orgulhosas e insubmissas, ou por tudo o que Abril ainda não cumpriu; o futuro sempre foi uma luta constante.
Cinquenta anos depois, encontramo-nos, no entanto, numa encruzilhada diante da nova crise política em nosso país. Uma desgovernação egoísta que parece ter sido conivente com os grandes poderes, como é típico de qualquer maioria absoluta. Ao mesmo tempo, vivemos uma crise na opinião pública sobre o papel que o Ministério Público tem desempenhado na investigação dessa mesma desgovernação.
Diante do caos, eleições antecipadas são a resposta mais justa que podemos oferecer a um país que precisa reconquistar a esperança na democracia e em seus representantes. É a resposta mais justa que podemos oferecer àqueles que não se identificam com o circo constante e que desejam superar o impasse político que vivemos.
No entanto, este ato eleitoral difere de todos os outros que já vivemos: corremos o risco de conviver com um governo que tem a presença de ministros da extrema direita reacionária, que desejam deter o progresso que experimentamos como herdeiros de Abril, abrindo nossa democracia a caminhos perigosos para o nosso futuro coletivo. Corremos o risco de ter ministros que resgatam a radicalidade do neoliberalismo, que vende nossas vidas diárias a grandes startups, sufocando constantemente nossa suposta boa vida.
É urgente começarmos a fazer as exigências necessárias que tanto precisamos: uma mobilização por aqueles que realmente não desistem do nosso Estado Social, da justiça e da igualdade fraterna, por aqueles que querem levar este país a sério e não desejam um governo fraco com os poderosos e forte com os supostamente fracos. Isso significa defender tudo o que conquistamos em Abril e que não queremos perder: que a liberdade nunca se encerre em si mesma e que estas eleições sejam um reforço de tudo aquilo que somos, e nunca do que não desejamos ser.
A uma semana das eleições Legislativas de 2024, o Interior do Avesso partilha uma crónica sobre o futuro publicada no Gerador e no Esquerda.net, em Novembro de 2023.
Jovem ativista estudantil da Beira Alta, natural de Fornos de Algodres. Atualmente faz parte da Greve Climática Estudantil - Guarda e da Plataforma Já Marchavas.