Do ativismo independente e do ativismo partidário.

Foto por Paula Nunes | Esquerda.Net
Nestes tempos de febre anti-partidária, não raro deparamo-nos com ativistas alérgicos aos partidos. De modo algum se pretende aqui defender a ideia da impossibilidade de lutar por causas de forma independente, os partidos terão, naturalmente, não só a obrigação de respeitar as associações que optam pelo apartidarismo estrito como até de perceber que em muitos casos essa é a opção correta para conseguir maior abrangência social nas suas legítimas reivindicações.
Isto é diferente de dizer que os partidos não possam apoiar tais reivindicações, desde que o façam no espaço que lhes é próprio e sem interferirem na dinâmica interna das associações e também não significa que não devam prestar todo o apoio – mais uma vez usando os seus próprios meios e espaços de intervenção – a causas que considerem justas.
Mas da mesma forma que não se pode permitir nenhuma tentativa de manipular o associativismo cívico independente, também não se pode pedir aos partidos que se desinteressem ou distanciem do ativismo não partidário, sobretudo quando há causas que se inscrevem na visão social que defendem.
Os partidos que tentam imiscuir-se na vida interna das associações cívicas independentes são socialmente tão nocivos como os ativistas que pretendem blindar as suas causas ao ativismo partidário.

e as formas de luta podem ser diversas, podendo muito bem essa diversidade funcionar como complementaridade.
Sejam quais forem as causas de que falamos, prestam um mau serviço à democracia todos os que reivindicam a exclusividade do ativismo tentando condicioná-lo a um ou outro segmento da sociedade, na exata medida em que deve ser do interesse de todos os que lutam por certa causa, torná-la o mais abrangente e universal possível.
Há muitas associações cívicas com causas meritórias e seus membros são dignos do maior respeito, tenham ou não ligações partidárias.

Nenhum ativista pode ser levado a sério se não desejar levar a bom porto a sua luta e para isso não deve nem pode esbanjar todos os apoios que consiga reunir. Por essa razão, a contribuição dos partidos pode ser importante para que uma causa triunfe.
Desejavelmente, as associações deveriam até espicaçar os partidos políticos todos, sem exceção, relativamente a questões que constituam o seu campo de ação, forçando-os a tomar posição, para que diante da comunidade não só sejam claras as opções de cada um deles como até para eventualmente poder “cobrar’’ as inconsistências partidárias quando seja caso disso, mormente quando está nas mãos de um ou mais partidos resolver os problemas enunciados e apesar desse poder, não o fazem.

Nada do que neste artigo é dito é novidade nos países democráticos com longa tradição de associativismo cívico, importa assim que fique claro, também em Portugal, que a lugar nenhum se chega com apelos ‘’higienistas’’ que tratam os partidos como agentes portadores de doença infetocontagiosa.

Como ativista em movimentos independentes e também em espaços partidários, afirmo que o meu desejo profundo é assistir ao triunfo das causas que defendo em qualquer contexto, o que a acontecer implicaria a inutilidade posterior tanto das associações como do partido em que milito, umas e outro entretanto tornados obsoletos, vítimas do seu próprio sucesso.
Este será um horizonte ideal e muito longe de concretização, certamente.

E é isso que muitas vezes me parece o ativismo que busca criar uma barreira intransponível entre ‘’suas causas’’ e o ‘’poder político’’ o único que, em qualquer caso, poderá resolvê-las.

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Nascido em Angola em 10-09-1963. Cursou Arquitectura na ESBAP e na FAUTL. Professor do 3ºCiclo. Activista, Poeta, Ficcionista, Autor Satírico (sob o nome Jo King), Cartoonista (sob o nome Jo) vive actualmente em Viseu.

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