Um balanço das Eleições Europeias vistas desde Viseu

Embora registando mais 30 000 votantes relativamente às últimas eleições europeias, a tónica por grande parte das análises nos meios de comunicação social tem sido colocada na abstenção raras vezes se referindo que estas eleições contaram com mais de um milhão de novos/as recenseados/as.

Sendo verdade que os números da abstenção são preocupantes, impunha-se reflectir nas suas causas que no entanto vêm sendo escamoteadas, não havendo qualquer referência, por exemplo, às promessas sucessivamente traídas pelos chamados partidos do arco do poder, actuação esta que cria nos/as eleitores/as a sensação da inutilidade do voto e da pouca relevância de ser este ou aquele partido o protagonista da governação.

Neste contexto, os resultados do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu, à semelhança do que aconteceu no todo nacional são notáveis, tendo em conta que se difundiu a ideia  – que os media não tentaram contrariar – do partido partilhar o poder, como se de uma coligação se tratasse quando, como é sabido, a viabilização do governo se deu por via de acordos parlamentares com as limitações inerentes a essa solução.

Mais notável ainda se nos lembrarmos da emergência de novos partidos que disputaram o espaço político onde o BE sempre se posicionou, reivindicando – apesar de escasso ou nulo activismo causas tão diversas como o ambientalismo, os direitos LGBTI ou os direitos dos animais.

Esta votação, além de aumentar a representatividade do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu, representa para o Distrito a esperança de uma alternativa aos Partidos que sempre ocuparam os assentos da Assembleia da República e que vêm traindo sucessivamente o seu eleitorado viabilizando as portagens electrónicas, não cumprindo as promessas feitas quanto à implementação do acesso à rede ferroviária nacional, retirando serviços públicos essenciais a várias localidades do distrito e desprezando o equilíbrio ambiental, quer por políticas florestais erradas que criaram condições para incêndios apocalípticos, quer por indiferença diante da poluição das linhas de água por indústrias desrespeitadoras das normas europeias e nacionais, a que se soma agora a ameaça de minas a céu aberto que sob o pretexto da exploração do lítio, colocam em risco os ecossistemas e a vida das populações mais próximas das explorações previstas.

Continuaremos portanto a travar as lutas de sempre em prol das nossas populações, defendendo o trabalho com direitos, prosseguindo a luta iniciada em prol de quem trabalha por turnos, lutando contra a precarização laboral e pela recuperação de serviços públicos perdidos, pelas acessibilidades, pelo estabelecimento de um estatuto que reconheça e apoie os/as cuidadores/as informais, pela diversidade, os direitos humanos com enfoque especial nos direitos das mulheres das comunidades LGBTI, do ambiente e direitos dos animais, opondo-nos aos espectáculos degradantes como as touradas, garraiadas, utilização de animais nos circos e fazendo pressão para que se cumpram as leis e se apliquem as verbas previstas para impedir o abate de animais de rua e assegurar condições dignas aos que vivem nos canis e gatis municipais. Lutaremos ainda contra a violência de género e doméstica, por uma cultura de paz solidariedade e harmonia social.

(Escrito por António Gil para a Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda – Viseu)

Outros artigos deste autor >

Nascido em Angola em 10-09-1963. Cursou Arquitectura na ESBAP e na FAUTL. Professor do 3ºCiclo. Activista, Poeta, Ficcionista, Autor Satírico (sob o nome Jo King), Cartoonista (sob o nome Jo) vive actualmente em Viseu.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts
Rio Dão
Ler Mais

Os rios, a vida e o Dão

Foto por Vitor Oliveira from Torres Vedras, PORTUGAL, CC BY-SA 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0>, via Wikimedia CommonsA água doce é…
capitalismo-exploracao
Ler Mais

Qual será afinal um bom preço para a exploração?

Habituámo-nos a pensar as grandes transformações que derivam das lutas sociais como processos intrinsecamente dependentes dos aparelhos do estado, desde os partidos aos sindicatos. Mais ainda, como conflitos e processos que dependem destes aparelhos do estado e o disputam.
Ler Mais

Envelhecimento e a pandemia

Foto de Ana FeijãoSegundo o INE, em Portugal, em 2019, havia 163 idosos por cada 100 jovens.  A…
Ler Mais

Terra das Liberdades? Nem por isso!

"Esta situação, entre tantas outras, mostra que os direitos conquistados não estão magicamente garantidos, sendo necessário vigiar potenciais ameaças à continuidade dos mesmos. Daí a luta ser sempre essencial. Porquê continuar a marchar? Para relembrar que o direito ao aborto é para continuar, para relembrar que todos os outros direitos que se conquistaram lutando são para continuar e que estaremos na luta pela conquista contínua de novos direitos."
Skip to content