A frase, vista do ponto de vista ambiental, insere-se e define uma praxis conservacionista e ativista que concebe a mais pequena manifestação de vida em função de uma estrutura e de uma orgânica biológica solidária e planetária. Todos sabemos que a natureza tem essa fabulosa capacidade de se reestruturar, de se adaptar, de se recriar, contudo, essa aptidão tem alguns limites e são já hoje bem evidentes os malefícios para o planeta da lógica económica, destrutiva e nada sustentável que atualmente domina este mundo capitalista.
O ritmo das transformações operadas a partir da Segunda Guerra Mundial, sobretudo nos países da Europa, Rússia, Japão, EUA e mais recentemente na China (Tigres Asiáticos), Índia, entre outros, são sem dúvida alguma as causas mais evidentes de um processo destrutivo do nosso ambiente e, por consequência, do futuro onde se incluirá a vida dos nossos filhos. Em pouco tempo, o petróleo e os seus derivados, bem como outras fontes de energia altamente poluidoras, prepararam o aparecimento de um novo homem. Um homem mais mecânico, mais tecnológico, mais poderoso, mais consumista, mais individualista, mais ingenuamente materialista, mais egoísta, mais poluidor, mais plástico, lamentavelmente mais elástico e manipulável quer por fora, na aparência, quer por dentro, no que se é de crítico e inquieto! A esse homem novo, mas sem qualquer laivo de renovação intelectual, designaram-no de evoluído e puseram-no a habitar num mundo fundamentalmente urbano, de supérfluo, de desperdício e de enganoso conforto.
De um momento para o outro, em todas as dimensões da existência humana, passou ainda mais a valer as cotações na bolsa, o dinheiro, o imediato, o presente, o agora, a hipócrita aparência… e assim se foi esquecendo o futuro, a nossa inequívoca dimensão cultural, espiritual, filosófica e, sobretudo, a preocupação por um tempo outro, aquele outro tempo do devir onde viverão todos os nossos descendentes.
Uma exagerada e egoísta ganância entranhou-se no comportamento humano e metodicamente transformou-se no epicentro onde foram radicando e ainda radicam todas as “responsáveis, ponderadas, inteligentes decisões políticas e económicas”. Juntou-se a isto o pensamento e a loucura de um crescimento económico infinito, a que cada um dos estados foi acrescentando uma infraestrutura e uma superestrutura de organização da sociedade capitalista cada vez mais demolidora e sem um rasgo de futuro para a humanidade.
Este individualismo materialista, esta vontade de possuir tudo de modo postiço e sem qualquer utilidade prática, começa agora a ter consequências seriamente nefastas, mas mesmo assim muito pouco está a ser feito para remediar a situação. Bem pelo contrário, fenómenos recentes de eleitos pela vontade popular em grandes países como os EUA ou o Brasil, por exemplo, mostram quanto a maioria dos homens e das mulheres se preocupam com as políticas da preservação ambiental e com a saúde do planeta enquanto casa comum.
A poluição nas mais diversas formas, a entrada do plástico na cadeia alimentar, as chuvas ácidas, o efeito de estufa, a destruição da camada do ozono, a extinção dramática de espécies animais e vegetais, os grandes incêndios florestais, as alterações climáticas e a maior incidência de doenças novas e fatais, são apenas alguns exemplos dos sintomas que anunciam um planeta enfermado, o mesmo planeta que pertence a todos os seres vivos, onde habitam biliões de espécies sem culpa alguma e onde também coexiste o único e grande culpado por esta gradual destruição: aquele bicho superiormente inteligente que orgulhosamente designaram por ser humano.
Porque estas e tantas outras questões ambientais me preocupam, também eu me assumo como um conservacionista; um “partidário” incondicional do “pensar globalmente para agir localmente”, porque só assim, só com o compromisso de cada um de nós perante o nosso bairro, a nossa serra, o nosso campo, a nossa aldeia, a nossa vila, a nossa cidade, o nosso país, o nosso continente, poderemos travar a enfermidade que já começou a carcomer a um ritmo alucinante o planeta que nos permite a alegria diária de um gesto tão simples como respirar.
É urgente, muito urgente, inacreditavelmente urgente, fazermos uma introspeção séria sobre o nosso enquadramento na natureza, exigir soluções necessárias e politicamente viáveis aos nossos governos, mas também colocar sempre em prática pequenos gestos quotidianos que, embora insignificantes em cada um de nós, se multiplicados por todos, dariam um excelente contributo para aquietar a gravidade da doença que está a destruir esta nossa casa comum. Porque quando a desgraça acontecer, “quando a última árvore tiver caído, / quando o último rio tiver secado, /quando o último peixe for pescado, / eles vão entender, / que dinheiro não se come.” E será nessa altura que eles e nós entenderemos por via da experiência e do sofrimento da extinção sem retorno que “Não há Planeta B”.
Pode ser que num futuro próximo, sobretudo devido à sincera esperança que deposito nas mãos da nossa juventude, se processe uma transformação drástica, radical, de comportamentos e de políticas económicas e ambientais. Pode ser! Mas o tempo para impedirmos a consumação da catástrofe está mesmo, mas mesmo, a esgotar-se! Será que ainda vamos a tempo?!
Arqueólogo/Historiador de profissão. Desenvolve a sua atividade no âmbito da investigação, gestão e preservação do Património Cultural. É autor de publicações de divulgação e de publicações com carácter científico. Divulgador. Exerce regularmente, por complemento da sua ação cultural, a atividade da escrita jornalística.