Um ambiente sem pessoas

Foto de ANDARILHA \ Isabel Coimbra | Flickr
Partindo do princípio que nada terá validade na área do ambiente sem a colaboração das populações locais, nesta problemática, para além de outros, que haverá, permitam-me três ângulos de análise. Primeira: a relação do homem com a Natureza na chamada “província” foi sendo pautada por um certo equilíbrio e este foi desfeito sempre que factores externos se intrometeram. Deu brado a introdução do pinheiro bravo nas regiões transmontanas e beirãs no início do século passado, face a uma posição hostil das populações autóctones que viam na medida a diminuição dos pastos, essenciais a uma agricultura de subsistência. Os incêndios florestais e o desaparecimento de árvores autóctones foram as duas maiores consequências nos tempos de hoje. Mais tarde a mudança do paradigma de agricultura familiar para a dita empresarial introduziu novas formas de cultura, como as frutícolas que tiveram de recorrer a herbicidas e pesticidas que subverteram todo o equilíbrio ecológico, cujo impacto ainda hoje está por avaliar de uma forma exaustiva.

Segunda: A política dos sucessivos governos tem levado ao despovoamento do interior. Por parte da administração central e regional ainda não houve respostas capazes para a partir desta realidade se fazer um reordenamento florestal e ambiental sério do território. Por último a transformação como se pretende do interior numa grande reserva terá de ter compensações para os que ficam. Quem por cá “resiste” terá de ser “compensado” pelo conjunto de “impossibilidades” que lhe são impostas face à necessidade de preservação do espaço em que vivem.

A protecção dos ecossistemas é vital ao futuro da humanidade, contudo os que não os preservaram (regiões mais humanizadas e povoadas) terão de contribuir a quem exigem uma atenção ecológica. Nesta questão cresce a irritação ao chamado radicalismo ecológico, pois o meio ambiente só terá sentido se o homem tiver possibilidade de o fruir. Não faz sentido, que é preciso preservar todos os espaços, com a condição de que ninguém possa entrar.

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Natural da freguesia de Selores, concelho de Carrazeda de Ansiães.
Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico, mestrado em cultura portuguesa, doutorando em língua e cultura portuguesa. Socio-fundador da Cooperativa Rádio Ansiães e seu diretor entre 1987 e 1997. Colaborador de vários jornais locais e regionais.

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