À Conversa sobre Livros com António Serzedelo

A leitura é, provavelmente, uma outra maneira de estar num lugar, escreveu o Nobel da literatura portuguesa, José Saramago.
Leituras Queer - conversa sobre livros
Leituras Queer

Fonte inesgotável de conhecimento e prazer,  poderosa ferramenta de influência e transformação política, a leitura e a liberdade intelectual chegam até a ser censuradas por regimes repressivos, ditatoriais e totalitaristas, levando a que a informação, o espírito crítico sejam negados a grande parte das pessoas. 

Em pleno século XXI, assistimos cada vez mais a discursos de ódio, à propagação do medo e de conteúdos de desinformativos quanto a questões de género e sexualidade. Na Europa, EUA, Brasil e um pouco por todo o mundo, assiste-se à criação de campanhas de proibição de livros de temática LGBTQIA+. Com base em justificações de “promoção da homossexualidade” ou da “propaganda da ideologia de género”, grupos ideológicos conservadores mostram atentar a autodeterminação, a liberdade de expressão, a autodescoberta e visibilidade das experiências de pessoas LGBTQIA+.

Recordando a célebre frase de Oscar Wilde, preso numa altura em que a homossexualidade era considerada como vício e decadência, diria: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros ou são bem escritos ou não.”

Reconhecendo a importância da leitura e da educação para as temáticas de igualdade e não discriminação, pretendemos conhecer as estantes Queer e Feministas de algumas personalidades portuguesas. De forma a partilhar novos mundos que os livros encerram, questionamos:

  • Qual o livro que mais a marcou/influenciou pessoal e profissionalmente?

Os Sequestrados de Altona de Jean Paul Sartre. Uma obra em que Sartre equaciona os problemas fundamentais do homem posto perante si próprio.

Os Sequestrados de Altona de Jean Paul Sartre (1961). 1ª Edição Portuguesa.
  • Algum autor/a com que se identifica mais e que segue há mais tempo?

Tenho de responder que foi Jean Paul Sartre filósofo francês do existencialismo. Sartre mas também Heidegger assim como Gabriel Marcel e Karl Jaspers, autores percursores do existencialismo de Kierkegaard que, no pós guerra, viu o homem no centro da existência humana.

  • Qual a leitura que acompanha e recomendaria aos nossos leitores?

A Homossexualidade de Fernando Pessoa de Victor Correia. Um livro que pretende mostrar as formas variadas como a homossexualidade aparece tratada, implícita e explicitamente, na vasta obra de Fernando Pessoa.

A Homossexualidade de Fernando Pessoa de Victor Correia (2022)

António José Serzedelo Silva Marques é um activista, radialista, jornalista, político, ator e académico português. É o mais antigo activista da causa LGBT em Portugal (desde Maio de 1974). Foi co-autor do primeiro manifesto da causa LGBT em Portugal, Liberdade para as Minorias Sexuais. Foi fundador da Opus Gay (agora Opus Diversidades). Fundou e dirige o programa de rádio Vidas Alternativas.

Artigo publicado em Leituras Queer

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“Queer” = bizarro, excêntrico, estranho, não conforme. O termo serviu por mais de um século para associar a homossexualidade a doença, crime, pecado e exclusão social. Hoje, o conceito é usado como designação e/ou identificação da luta pessoal e/ou coletiva que critica e resiste às noções essencialistas de identidade.

Leituras Queer pretende ser um espaço de reflexão, partilha e divulgação de obras Queer e Feministas em português. Um espaço que, tornando visível as vidas Queer pretende desconstruir o tabu; a homofobia; os estereótipos e invisibilidade que continuam a ser alimentados num contexto internacional de ódio, conservadorismo e medo.

Este é um projeto que pretende empoderar, estimular o pensamento para novas práticas mais disponíveis para o diálogo horizontal e para a aprendizagem mútua.

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