Fonte inesgotável de conhecimento e prazer, poderosa ferramenta de influência e transformação política, a leitura e a liberdade intelectual chegam até a ser censuradas por regimes repressivos, ditatoriais e totalitaristas, levando a que a informação, o espírito crítico sejam negados a grande parte das pessoas.
Em pleno século XXI, assistimos cada vez mais a discursos de ódio, à propagação do medo e de conteúdos de desinformativos quanto a questões de género e sexualidade. Na Europa, EUA, Brasil e um pouco por todo o mundo, assiste-se à criação de campanhas de proibição de livros de temática LGBTQIA+. Com base em justificações de “promoção da homossexualidade” ou da “propaganda da ideologia de género”, grupos ideológicos conservadores mostram atentar a autodeterminação, a liberdade de expressão, a autodescoberta e visibilidade das experiências de pessoas LGBTQIA+.
Recordando a célebre frase de Oscar Wilde, preso numa altura em que a homossexualidade era considerada como vício e decadência, diria: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros ou são bem escritos ou não.”
Reconhecendo a importância da leitura e da educação para as temáticas de igualdade e não discriminação, pretendemos conhecer as estantes Queer e Feministas de algumas personalidades portuguesas. De forma a partilhar novos mundos que os livros encerram, questionamos:
- Qual o livro que mais a marcou/influenciou pessoal e profissionalmente?
Os Sequestrados de Altona de Jean Paul Sartre. Uma obra em que Sartre equaciona os problemas fundamentais do homem posto perante si próprio.
- Algum autor/a com que se identifica mais e que segue há mais tempo?
Tenho de responder que foi Jean Paul Sartre filósofo francês do existencialismo. Sartre mas também Heidegger assim como Gabriel Marcel e Karl Jaspers, autores percursores do existencialismo de Kierkegaard que, no pós guerra, viu o homem no centro da existência humana.
- Qual a leitura que acompanha e recomendaria aos nossos leitores?
A Homossexualidade de Fernando Pessoa de Victor Correia. Um livro que pretende mostrar as formas variadas como a homossexualidade aparece tratada, implícita e explicitamente, na vasta obra de Fernando Pessoa.
António José Serzedelo Silva Marques é um activista, radialista, jornalista, político, ator e académico português. É o mais antigo activista da causa LGBT em Portugal (desde Maio de 1974). Foi co-autor do primeiro manifesto da causa LGBT em Portugal, Liberdade para as Minorias Sexuais. Foi fundador da Opus Gay (agora Opus Diversidades). Fundou e dirige o programa de rádio Vidas Alternativas.
Artigo publicado em Leituras Queer
“Queer” = bizarro, excêntrico, estranho, não conforme. O termo serviu por mais de um século para associar a homossexualidade a doença, crime, pecado e exclusão social. Hoje, o conceito é usado como designação e/ou identificação da luta pessoal e/ou coletiva que critica e resiste às noções essencialistas de identidade.
Leituras Queer pretende ser um espaço de reflexão, partilha e divulgação de obras Queer e Feministas em português. Um espaço que, tornando visível as vidas Queer pretende desconstruir o tabu; a homofobia; os estereótipos e invisibilidade que continuam a ser alimentados num contexto internacional de ódio, conservadorismo e medo.
Este é um projeto que pretende empoderar, estimular o pensamento para novas práticas mais disponíveis para o diálogo horizontal e para a aprendizagem mútua.