Neste tempo de desafio coletivo, em que passamos por uma crise social, sanitária e económica por causa da covid-19, não é todo uma boa altura para a adotar um animal. A justificação que muitas pessoas manifestam é que agora têm mais disponibilidade por causa da quarentena ou que a criança de casa quer um animal de companhia, na maioria das vezes de forma impulsiva e irrefletida. É importante relembrar que, aos poucos, vamos retomar as nossas rotinas, o que pode causar um transtorno para o animal e para a família.
Em consequência, e devido ao aumento de pedidos de adoção de animais nos centros de recolha do país -muitas associações têm suspendido o processo de adoção, tal como fazem também na época no Natal-, há uma equivocada ideia de que cães e gatos é um tipo de brinquedo, não os olhamos como seres vivos que precisam de um acompanhamento responsável toda a vida. Isto inclui respeito, atenção, carinho e algumas despesas. Afinal, um animal não é um bem material, mas sim uma vida com necessidades bem específicas.
Em Portugal, na época de Natal, as associações costumam interromper as adoções. Porque fazem isto? Porque dois ou três meses depois do Natal muitos animais são devolvidos ao canil ou até abandonados. As pessoas retomam a vida normal e tal como um brinquedo é colocado de lado. A ideia de oferecer a alguém um animal para satisfazer uma necessidade humana e efémera pode reforçar a ideia de que um animal é um bem descartável.
É óbvio que qualquer pessoa pode entender a presença de um animal doméstico como um presente na sua vida, mas o problema surge quando a ideia de presente traz o inerente, comum e prejudicial conceito de objetificação, porque neste caso a desconsideração pela vida não humana e o abandono, infelizmente, são apenas uma questão de tempo.
Em Portugal, o flagelo do abandono animal é uma realidade cada vez mais preocupante. Mesmo com o reforço das penas ao maltrato animal e algumas medidas de apoio financeiro para a construção de centros de recolha de animais e esterilizações, este último recurso tem sido pouco utilizado pelas autarquias, mesmo como possível mecanismo de controlo da população de cães e gatos devido a implementação da proibição do abate de animais por sobrelotação. A fiscalização do abandono de animais é, na sua maioria, feita pela sociedade civil, sejam ativistas, associações e movimentos. Mas é necessário a ajuda imprescindível das autoridades responsáveis, sejam as forças de segurança, sejam os municípios que vivem num total absentismo relativamente a este tema.
Diego Enrique Rodrigues Garcia, nasceu no dia 1 de Agosto de 1992 em Ourense, na Galiza. Desde 2009 que reside continuamente em Portugal, na região da Beira Alta.
Ativista social e independentista galego, está ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Dirigente do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu
Atualmente a realizar uma licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta.