Todos nós percebemos que as relações laborais têm sofrido alterações permanentes, na sua maioria originando uma fragilização dos direitos dos trabalhadores. A precariedade transvestida das mais diversas formas resiste e reproduz-se a uma velocidade alucinante, falsos recibos verdes, trabalho temporário, falso outsourcing, esquemas de empresas matrioscas que têm como objetivo o despiste das leis laborais.
Neste combate, por si só desigual, a força laboral deveria estar unida e suportada pelo movimento sindical. Mas um certo corporativismo fechado dentro dos sindicatos faz com que diariamente se assista à saída dos trabalhadores, reduzindo passo a passo os sindicatos a um estado cada vez mais vegetativo. As razões para o desencanto dos trabalhadores são inúmeras, desde uma clara falta de ação na resposta aos problemas dos associados, à falta de pro-atividade na reivindicação de direitos e melhoria das condições laborais para todo, numa atitude de pura falta de estratégia que responda de forma assertiva a realidade atual. Com este cenário, os trabalhadores vêem reduzidas as suas opções, limitando-se a sair da atividade sindical aceitando a triste sina que a entidade patronal decreta, ou criando movimentos alternativos ou sindicatos independentes, muitos deles sem uma organização clara, sem objetivos definidos, que mais não fazem do que sinalizar de forma desesperada a falta de resposta daqueles a quem socialmente competia intervir.
As estruturas sindicais, órgãos de força agregadora de trabalhadores, não têm sabido perceber toda esta problemática, fechados em comités elitistas, onde as pessoas não são valorizadas pelo seu trabalho real junto dos trabalhadores, focando-se no controle da estrutura, não promovendo o diálogo e esclarecimento laboral, sem pensar que o esvaziamento e descrédito promovido levará ao definhamento de todo o movimento.
As centrais sindicais por sua vez deveriam ser o garante da estratégia sindical, formando melhores sindicatos, promovendo a democracia interna, criando estratégias em função das novas formas laboral, abraçando novas lutas, alertando e corrigindo os comportamentos desviantes sindicais e suas ingerências, tendo como lema claro a proteção e agregação laboral.Todos sabemos que a força do sindicalismo está nos trabalhadores, mas não, nada disto tem estado no foco. A pluralidade não é promovida, a blindagem a novas tendências e sensibilidades é constante, politizando os organismos sem noção dos prejuízos causados aos trabalhadores, pois no fim do dia são estes que perdem.
Com o aproximar de mais um congresso da CGTP, poderíamos esperar que, face a estes desafios urgentes, todo este paradigma mudasse, mas tudo indica que será mais do mesmo. Mais um oportunidade perdida na emergência laboral. Em nome de quem? Com que ideologia? Para servir a quem? Os trabalhadores não vão esperar para ver…. Quando a estrutura acordar será tarde.
Em toda este conflito, o que verdadeiramente interessa é a força do coletivo laboral. Só com luta setorial se pode melhorar as condições de cada profissão, só com a luta de todos poderemos melhorar as condições laborais do país. Todos devemos estar atentos às alterações da legislação laboral, dos atropelos aos acordos de empresa, ao assédio laboral, e todos sem exceção devem ser chamados para que o movimento sindical seja mais forte e unido, sem fechamento nem os sectarismos que hoje predominam.
Os precários, tantas vezes subalternizados pelas próprias forças sindicais, têm sido um excelente exemplo de luta e de união na conquista dos seus direitos. No caso da RTP, mas não só, muitos deles têm conseguido a integração nas empresas para as quais prestam serviços , num justo reconhecimento de um vínculo laboral efetivo. Outros ganham o respeito por não se vergarem e lutarem pelo coletivo, fazendo o que competiria também aos sindicatos fazer.
Os novos trabalhadores, que entram no mundo laboral pela mão da precariedade, não se revêem num sindicalismo que não os toma como protagonistas. É essencial que este se adapte, que chame os precários ao movimento sindical. Estes novos trabalhadores não querem um sindicalismo com discurso pouco representativo da realidade, assente em velhos dogmas e frases feitas bonitas de ouvir. Mais do que palavras, o que eles esperam do movimento sindical é renovação e ação.
Artigo publicado na Revista Anticapitalista
Nasceu em Mirandela em 1976 e viveu em Trás-os-Montes até aos 18 anos, altura em que foi para o Porto estudar piano. Licenciado em produção e tecnologia da música na ESMAE.
Em 2003 entrou na RTP Porto como técnico de som. Esteve com vínculo precário até 2008. A luta por um vínculo laboral justo fez-lhe ganhar interesse pela defesa dos direitos laborais...atualmente está no SINTTAV ( Sindicato nacional dos trabalhadores de telecomunicações e audiovisuais), na qualidade de delegado sindical, e na coordenador da Comissão de Trabalhadores da RTP, entre outras organizações de activismo laboral.
Nunca perdeu a ligação a Trás-os-montes, onde desenvolve como hobby a apicultura e agricultura.