Com o final de 2019 a chegar, resolvi partilhar convosco um pouco dos desafios vividos ao longo destes quase 365 dias. Foi um ano que marcou a minha vida, um ano com inúmeras lutas e várias vitórias que, contribuíram para o meu crescimento enquanto pessoa, profissional e cidadã.
Ao nível profissional, continuei a partilhar a incerteza de quem trabalha na área dos comportamentos aditivos e dependências. Todos os dias lido com a frustração, todos os dias lido com a realidade complexa das adições. Acredito que nenhum colega desta área pode dizer que está satisfeito com a indefinição vivida desde há duas legislaturas, a caminho de uma terceira. Tem sido um treino de resiliência constante que nos deixa exaustos. De recordar que, na comemoração dos 20 anos da Estratégia Nacional Contra a Droga, em maio passado, a Ministra da Saúde, Marta Temido, prometeu uma clarificação da organização dos serviços de intervenção nos comportamentos aditivos e dependências “claramente antes do final da legislatura” disse. Pois, não cumpriu, continuamos na mesma situação sem resolubilidade à vista. Deixou de haver um padrão assistencial comum, uniforme e consistente. É fundamental garantir a cobertura universal para todos os cidadãos, protegendo contra a discriminação e estigmatização, impedindo as assimetrias regionais e locais na prestação dos melhores cuidados. O problema das adições deixou de ser uma prioridade social e política há tempo demais. Continuo a defender um modelo que passe por um serviço especializado, com base num modelo integrado das várias vertentes de intervenção, coeso, acessível e de proximidade, recolocando o indivíduo como central e assente em valores como o humanismo, cidadania, territorialidade, integralidade, conhecimento e inovação. Não deixarei de reivindicar por um serviço de qualidade e com identidade!
Sensivelmente a meio do ano, recebi um convite totalmente inesperado: fazer parte da lista candidata do Bloco de Esquerda por Viseu, às eleições legislativas. Aceitei porque percebi que os concelhos a norte do distrito, como Resende de onde sou natural e onde escolhi residir, importam para o Bloco de Esquerda. Só quem cá vive sente os problemas da interioridade como seus, havendo portanto a possibilidade de sermos ouvidos e atendidos nas nossas reivindicações. Dar a conhecer as propostas do Bloco de Esquerda para o desenvolvimento do interior foi fundamental, por isso percorremos ruas e caminhos dos 24 concelhos deste distrito, durante vários meses. Continuo a acreditar que é possível reverter o abandono que este território tem sentido há vários anos, como resultado de políticas fracassadas de combate às assimetrias regionais. É necessário que se concretize, o já há muito prometido, investimento na promoção de acessibilidades que promovam o desenvolvimento integrado, tanto na rodovia como na ferrovia, no ambiente, na saúde, na educação, na cultura. Tínhamos, todas e todos, alguns objetivos em mente: continuar a estar ao lado das pessoas nas causas realmente importantes, fazer chegar a informação a todo o distrito, nunca negligenciando os locais mais pequenos e recônditos, consolidar o Bloco de Esquerda como a terceira força política no distrito e eleger uma deputada pelo círculo eleitoral de Viseu.
Chegados ao fim do dia 6 de outubro, constatamos que não elegemos aquela que seria primeira deputada do Bloco de Esquerda, por Viseu. Ficamos a 1752 votos desta eleição, o que teria sido possível de não tivesse ocorrido, no distrito, a redução de 9 para 8 mandatos. Tivemos plena noção do empenho de todas e de todos que se traduziu num aumento do número de votos no distrito e na maioria dos concelhos. Em Resende, por exemplo, conseguimos ser a terceira força política, algo que parecia quase impossível num território conservador e no qual as pessoas estão “presas” a promessas de quem detém alguma forma de poder. Do contacto que fui tendo com as minhas gentes fui percebendo que o Bloco de Esquerda deixou de ser visto como um partido de protesto, para ser efetivamente um partido de propostas em que os cidadãos acreditam. Continuaremos, pois, a lutar pelo desenvolvimento dos nossos territórios, pela manutenção dos serviços públicos de proximidade, percebendo que a sua existência não se deve medir pelo número de habitantes mas sim pelas necessidades de quem cá permanece. É fundamental insistir num olhar diferente sobre o envelhecimento da população, com reforço das pensões mais baixas, e sobre os jovens, promovendo a fixação destes através da estabilidade no trabalho contrariando a precariedade e a dificuldade de acesso a carreiras profissionais. Sempre acreditei e continuo a acreditar num concelho, num distrito e num país mais coeso.
Permaneço na luta pelos direitos de quem cá escolhe viver. Tento fazer vingar os movimentos de cidadania, de promoção da consciência cívica, continuando a organizar ações que assentam na devolução da capacidade de decisão às pessoas. Permaneço ao lado da população, potenciando o seu sentido crítico e o seu poder reivindicativo, tomo parte ativa em todas as ações que visam a igualdade.
Valerá sempre a pena criar desafios, criar iniciativas cívicas que movam as populações no sentido da mudança, criar espaços de debate livre, criar ambientes despreocupados e descontraídos onde a participação de todas e de todos é absolutamente garantida.
Continuarei a fazer acontecer em 2020!!! Desejo a todas e a todos um ano cheio de desafios, porque são os desafios que nos permitem crescer, ser pessoas, ser cidadãos.
Psicóloga, de 44 anos.
É natural de Resende, onde reside, trabalha em Lamego.
Candidata independente às Eleições Legislativas pelo Bloco de Esquerda.