Esperar NÃO é o melhor remédio

Linha Comboio
Linha Comboio

As declarações do Ministro das Infraestruturas sobre Trás-os-Montes, no âmbito do Plano  Nacional Ferroviário, causaram uma pequena onda de choque no território, nomeadamente  com as declarações irrelevantes que alguns autarcas, pouco interessados nestas matérias,  proferiram. Contudo, se deste Ministro, que já fez mais e melhor pela nossa ferrovia em 2 anos  que muitos antecessores em legislaturas inteiras, veio a convicção que o futuro não passaria pelas Vias Estreitas do Douro, tampouco veio certeza alguma sobre a construção da centenária promessa da “Transversal Trasmontana”. Ou seja, ficámo-nos em coisa nenhuma.  

A Transversal seria uma via nova a ir directamente da Linha do Douro, algures na zona do Marco  de Canaveses, até Vila Real e Bragança, e daí à Linha de Alta Velocidade Madrid – Corunha, que  passa a rasar pela fronteira nordestina. Se a ideia parece meritória, os seus custos não auspiciam  nada de bom: com uma extensão próxima dos 200 km, e imaginando um custo por km de 5  milhões de euros (mero exercício académico, entre os 3 da auto-estrada trasmontana, e os 7 da  nova via férrea Elvas – Évora), chegamos à estratosférica soma de mil milhões de euros. 

O Governo ofereceu evasivas, as características de tal via deixam prever custos de construção  de centenas de milhões de euros e uma execução a longo prazo, e um dos maiores especialistas  em ferrovia em Portugal, Manuel Tão, já teceu comentários de que é altamente improvável que tal obra alguma vez avance. Esperar por ela não me parece, portanto, uma boa estratégia. 

A Transversal discorreria no eixo Mirandela – Bragança, onde já existe um canal ferroviário: o da  Linha do Tua. Se todo o canal é compaginável com o que se espera de uma ferrovia do século  XXI? Obviamente que não; só que tal como a A4 aproveitou muito do que era o IP4 para fazer  um upgrade de via rápida para auto-estrada, poupando imenso no custo que seria fazer tudo de  raiz, também o regresso do comboio a este eixo pode aproveitar o canal da Linha do Tua onde for aproveitável, e fazer via nova onde o não for. Simples, certo? 

Já no distrito de Vila Real, a Transversal deixará o Alto Tâmega a ver os comboios a passar de  longe. Chaves, com 18,5 mil habitantes – próximo portanto da meta do Governo de ligar por  comboio cidades com 20 mil habitantes – alberga a estação terminal da Linha do Corgo. Tal  como a Linha do Tua, grande parte do seu percurso pode levar um upgrade por muito pouco, ao  cortar curvas ou prepará-las para velocidades maiores. A única excepção é o troço montanhoso  entre a Régua e Vila Real; mas redes ferroviárias bem mais densas e modernas que a nossa,  como seja a da Suíça, convivem com vias estreitas destas todos os dias. 

Desligar a zona norte de Trás-os-Montes do Douro é inconcebível. Estas vias reabrem-se por  uma fracção do valor e do tempo de uma Transversal, cobrem mais território, e são mais  próximas da população. Num horizonte de 2 anos, Bragança e Vila Real podem voltar a ter  serviços ferroviários, com vias e comboios modernos, patamares de velocidade mais elevados,  transporte de mercadorias, sem deixarem de ser uma alternativa inter regional e de longo curso. De bónus, as sinergias criadas com a Linha do Douro e as transportadoras rodoviárias da região.  

Estamos à espera do quê mesmo?!… 

Não escrevo segundo as regras do novo acordo ortográfico.

Daniel Conde
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Trasmontano, natural de Vinhais (nascido no Rio de Janeiro) em 1984. Frequentou dos 10 aos 14 anos o Colégio Salesiano de Poiares da Régua, onde viajou frequentemente na Linha do Tua, nascendo aí o seu interesse pela sua salvaguarda. Licenciado em Gestão pelo ISCTE (2002-2007), e com pós-graduação em Turismo pela ESHTE (2008-2010).
Fundou o Movimento Cívico pela Linha do Tua em 2006, estando sempre na linha da frente da luta contra a barragem do Tua, escrevendo vários comunicados e artigos de opinião, entre participações em debates. Em Dezembro de 2010 fundou o Movimento Cívico pela Linha do Corgo, com menos actividade que no MCLT. Deixou ambos os movimentos em meados de 2015, mas nunca se afastando da divulgação e defesa destas vias-férreas, a par da da Linha do Sabor, sobre a qual criou um estudo de reabertura, publicado no livro "A Linha do Vale do Sabor - Um Caminho-de-Ferro Raiano do Pocinho a Zamora".
Foi Assessor de Gestão no Metro de Mirandela entre 2009 e 2012, promovendo algumas mudanças, mas sendo sempre boicotado em vários esforços pela Administração.
Em 2010 ficou em 3º lugar no concurso nacional de empreendedorismo "Realiza o teu Sonho", da Acredita Portugal, com um projecto de Turismo Ferroviário na Linha do Tua. A CP nunca quis reunir para conhecer o projecto.
Tem publicado no seu canal no YouTube alguns estudos de reabertura de troços ferroviários, nomeadamente da Linha do Corgo entre a Régua e Vila Real.

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