Este artigo de opinião serve para que exista uma resposta no meio de uma narrativa dominante, sobretudo para quem ataca cegamente os partidos, mas passou a vida toda a servir-se deles.
Escrevo como militante partidário, mas sobretudo escrevo como ativista social e cidadão atento às dinâmicas sociais, que encara a atividade política como uma serviência à causa comum e não a interesses pessoais.
Sinto-me obrigado a esclarecer e a responder, com factos, aos ataques cerrados que a candidatura “independente” (CICC) em Carregal do Sal está a proferir aos partidos e aos seus militantes e simpatizantes. Sinto-me obrigado porque os e as carregalenses não precisam que lhe deitem areia para os olhos, sobretudo, utilizando uma narrativa agressiva e pouco inclusiva – a política deve servir para integrar e incluir, e nunca para o contrário.
Escrevo eu, que valorizo os verdadeiros movimentos de cidadãos que se decidem candidatar a um órgão porque, na verdade, se apresentam com um programa eleitoral alternativo aos partidos, também candidatos, ou outras candidaturas.
Para perceberem que me sinto numa posição confortável, quem conhece a vida autárquica de Coimbra sabe que o Bloco não se apresenta às eleições autárquicas no concelho há vários anos, decidindo integrar um movimento de cidadãos abrangente e inclusivo, juntamente com outras forças partidárias e cidadãos, é o Cidadãos Por Coimbra.
Sinto-me confortável porque, ainda em março de 2021, o Bloco defendia a reversão da lei que prejudicava os movimentos independentes que se quisessem candidatar às eleições e sempre apresentou propostas, tanto a nível municipal como nacional, no sentido de aproximar os órgãos políticos, sejam eles autárquicos ou nacionais, aos e às eleitoras.
A candidatura “independente” de Carregal do Sal (CICC) está, há semanas, a fazer ataques cegos aos partidos, criticando-os de afunilamento e de interesses partidários (que segundo o CICC, não defendem os interesses das populações).
Até porque existem verdadeiros movimentos de cidadãos, como é o caso de Coimbra ou do Castelo Branco Merece Mais, é necessário comprovar com factos que há movimentos e movimentos. Assim o CICC é constituído por:
- O candidato à Câmara Municipal andou décadas no PSD, com vários cargos autárquicos, e quando se quis candidatar à Presidência, em 2013, foi pelo PS;
- Uma das candidatas à Câmara Municipal é a última vencida das últimas eleições à concelhia do PS;
- Na lista da Assembleia Municipal, temos membros deste órgão, ainda em funções, eleitos pelo PS e pelo PSD. Inclusive, uma das candidatas independentes era a mais crítica quando representava um partido, com base nas suas intervenções, da atual gestão com a qual se apresenta no próximo ato eleitoral;
- No conjunto da candidatura independente temos militantes do PS e do PSD, inclusive antigos dirigentes que mostraram apoio às candidaturas partidárias há uns meses;
- Às Juntas de Freguesia, temos candidatos que já foram membros do PCP e do PS, inclusive, já foram Presidentes de Junta pelo PS;
Outro facto importante, é a questão do Orçamento de Campanha, tal como noticiou o jornal Público no dia 11 de agosto, na lista dos maiores orçamentos do país encontram-se movimentos independentes: Rui Moreira (285 mil euros), Isaltino Morais (283 mil), Elisa Ferraz – Nós Avançamos Unidos (125 mil euros), SEMPRE de Castelo Branco (91 mil euros) e Pela Guarda – Autárquicas 2021 (80 mil euros).
Também em Carregal do Sal, a candidatura com o maior orçamento de campanha é a do movimento independente com 40 mil euros, tendo quase o dobro de orçamento que o segundo, o PS.
Face a estes dados, parece que alguns movimentos independentes “precisam” de sair dos partidos para evidenciar o que sempre foram.
A pergunta que os e as carregalenses se devem fazer, porque é importante encarar o próximo ato eleitoral com seriedade e honestidade política, é qual seria o ponto de situação atual se as últimas eleições à concelhia do PS tivessem outro desfecho, esta é a pergunta que importa fazer para percebermos o porquê da candidatura “independente”.
Escrevo isto para me sentir em consciência, não para tomar as dores de outros, mas porque é uma questão de honestidade política. Que fique claro, que nada tenho contra o projeto político do CICC, que tem tanto direito como os outros de existir, mas é necessário “chamar os bois pelos nomes”: é uma candidatura feita, na sua maioria, por dissidentes partidários.
Diego Enrique Rodrigues Garcia, nasceu no dia 1 de Agosto de 1992 em Ourense, na Galiza. Desde 2009 que reside continuamente em Portugal, na região da Beira Alta.
Ativista social e independentista galego, está ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Dirigente do Bloco de Esquerda no distrito de Viseu
Atualmente a realizar uma licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta.