Sindicalismo, sempre

Workers of the world unite!
Workers of the world unite!

Há 172 anos, ecoava (“manifestava-se”) pelo mundo este grito de protesto. E de proposta.

Vem aqui a propósito no dia em que, completando 50 anos, a Confederação Geral de Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), realiza o seu XIV Congresso.

Então, como a História regista e acusa, no mínimo pelas desregulamentadas e desreguladas condições de alienação e exploração desumana (horários de trabalho de 16 horas, sem descansos semanais, salários miseráveis, trabalho desumano de doentes, mulheres e crianças “proletarizadas”, inexistência de condições mínimas de prevenção e reparação de doenças e acidentes profissionais, …) do trabalho (mais concretamente, das pessoas que o realizavam nos locais de trabalho), era mais do que pertinente este clamor de protesto e de proposta.

Contudo, as condições de tal proposta ser (como foi, ainda que com muita luta, sofrimento e até morte) concretizada assentavam também muito no próprio trabalho, na sua organização, a qual, não obstante as condições de trabalho referidas, era, na sua organização da produção, por si, factor de união dos trabalhadores.

A pertinência (premência) dessa proposta mantém-se, quiçá com maior acuidade. Com sinais de tendência de crescimento, mantêm-se condições de exploração e alienação do trabalho. Algumas com características literalmente não muito diferentes das do século XIX, outras, a grassar cada vez mais desregulamentadas e desreguladas, de natureza tão ou mais objectivamente exploradoras e alienadoras, ainda que disfarçadas ou clandestinizadas sob o “manto diáfano” e cintilante da “inovação tecnológica” e do “digital labor”.

Só que, agora, a concretização dessa proposta, por paradoxal que pareça, torna-se mais difícil do que há mais de um século, não obstante os avanços humanos, sociais e políticos democráticos (de que o sindicalismo foi factor preponderante). Justamente porque é o próprio trabalho, os “novos” modos de organização da produção e de emprego em que ele se realiza, que fomenta a individualização e precarização (embrulhadas na sub/sub/sub…contratação), no contexto de uma política (e, designadamente, de legislação do trabalho orientada para o “mercado de trabalho”) e economia (neo)liberal (por definição, individualizante) que é, por si só, factor de desunião dos trabalhadores.

Mais uma razão para que tal proposta, sem prescindir dos princípios fundadores mas adequadamente às transformações de que o trabalho tem vindo a ser objecto (e bjectivo), se renove e, mais, se acentue. Algo que tanto diz aos trabalhadores como aos cidadãos, na medida em que continua válido, pela centralidade humana e social que o trabalho continua ter, o pressuposto de que não há democracia sem sindicalismo.

Daí que, quem, para além de ser cidadão, como trabalhador viveu dezenas de anos na condição de dupla ligação ao trabalho (trabalhando a cuidar do trabalho dos Outros), tem por legítimo e pertinente exclamar, por mais deslocado e “ingénuo” que pareça: Parabéns à CGTP! Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos! (se não for já os “de todo o mundo, os de todo o local de trabalho, os de toda a profissão, os de toda a organização, os de toda a região, os de todo o país,…).

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Nascido em Santa Cruz da Trapa (São Pedro do Sul) em 23-08-1946. Licenciado e com pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho. (ISLA e Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto). Inspector do trabalho (aposentado). Escreve no Público, Esquerda.Net, Gazeta da Beira, Monde Diplomatique (EP) e revistas especializadas na área do Trabalho.
Este autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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