Quando aparecemos neste mundo logo vamos ao fundo.
Na escola da doutrina ensopada na latrina do sistema apolítico da ditadura
Naquele azar para os recém-vindos ao planeta plenos de sentido artístico
Foram obrigados a ter um penico debaixo da cama.
Não acertar-lhe durante a noite à luz da vela trazia
O açoite severo só porque era um em forma dela.
Desapareceram as cores das constelações, ficou a escuridão
Nas casas onde não havia a mão da compaixão
Impuseram-se os estandartes da religião, da família e da paz
Inscritos na fome de Fátima e de crianças da genuína pastorícia.
Seria melhor amante em vez de governante!
Entusiasmado na cadeira do poder absoluto
Resoluto numa trilogia sem teologia nem ideologia cósmica e universal
Sentiu-se a escorrer do pedestal com poder.
Despido de paixão caiu no chão como um cão sem o ser
Caiu sozinho e não baliu no rebanho.
No suspiro derradeiro da morte nem pensou em Portugal
Sem família, sem amantes e sem o povo pousou o cérebro
Na Cancela da sua individualista existência que quis.
Infeliz e anti-natural é ser-se inimigo do povo amigo.
Ainda levamos com gotículas ressabiadas na saturação
Do seminário longínquo da adoração humana
Somente assente na comunhão da trindade de deus, pátria e família
Demasiados portugueses foram torturados, mutilados e mortos
Nos esgotos da ditadura do Estado Novo.
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