DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES

Foto por Interior do Avesso
Ao contrário do que acontece nas escolas, o ensino à distância implica um custo acrescido para as famílias. Desde logo porque implica a necessidade de cada aluno possuir um computador (ou tablet) com um acesso de banda larga à internet, para assim poder efetuar a transferência de ficheiros necessários à realização dos trabalhos, para poder participar nas reuniões por videoconferência, nos fóruns de esclarecimento de dúvidas, proceder à submissão de trabalhos, entre outros…

Começa logo aqui a desvantagem para as famílias socialmente mais desfavorecidas, com crianças em casa em idade escolar. Com rendimentos baixos, sem equipamentos disponíveis, e muito provavelmente sem ligações à internet. São estes alunos, com perfil socioeconómico mais baixo, que têm piores condições em casa para utilizar as novas tecnologias, os que terão menos aproveitamento escolar no ensino à distância.

Sendo Portugal um dos países europeus onde menos cidadãos utilizam diariamente a internet – o que comprova a desigualdade no acesso à tecnologia – têm sido inúmeros os alertas, quer por parte dos diretores dos estabelecimentos de ensino quer por parte das associações de pais, no sentido de se encontrar uma solução que permita colocar todos os alunos em pé de igualdade.

No momento atual, com alunos a frequentar o ensino à distância por um período alargado, há que ter esta realidade em mente. Não tendo sido possível corrigir estas desigualdades, apesar de algumas autarquias terem distribuído equipamentos às famílias, acresce aquilo a que chamaria de desigualdade geracional. Os mais jovens estão muito mais familiarizados com as novas tecnologias do que os mais velhos, um facto relevante tendo em conta o envelhecimento do corpo docente, onde cerca de um terço dos professores do quadro está em vias de entrar para a reforma…

A tudo isto acresce a desigualdade territorial no acesso à tecnologia. É certo que a internet cobre praticamente todo o território nacional, o que não significa que a sua distribuição seja homogénea. Há ainda que ter em conta as diferenças entre contextos rurais e urbanos, sendo que em Portugal esta diferença territorial é particularmente acentuada.

Certamente haverá quem defenda que não serão muitos os alunos sem acesso à internet. Mas se a estes juntarmos todos aqueles que não dispõem de equipamento adequado em casa, estaremos certamente a falar de um número já bastante significativo.

Assim se conclui que o ensino à distância, atendendo às suas características, para além do enorme desafio que representa para o corpo docente é particularmente penalizador para as famílias socialmente mais desfavorecidas, sobretudo para aqueles que residem nas áreas rurais. 

Num modelo de ensino que se pretende igual para todos, o ensino à distância, pelos vários motivos atrás referidos, veio criar uma desigualdade de oportunidades que deixará marcas em muitos alunos…

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Nascido em Luanda - Angola em Junho de 1955. Em 1970 imigrou para a África do Sul, onde conclui o Ensino Secundário, e em março 1976 volta para Portugal, tendo fixado residência em Resende. Trabalhou como Técnico de Instalações Elétricas na Federação de Municípios do Distrito de Viseu entre 1977 e 1984, altura em que ingressou nos quadros de pessoal da EDP, onde se manteve até Fevereiro de 2008, tendo saído para a Pré-Reforma. Foi Presidente da Casa do Povo de Resende (IPSS) entre agosto 2002 e maio 2016. No âmbito do associativismo, faz ainda parte dos órgãos sociais da Associação de Karate Shotokan de Resende, do Clube de Natação de Resende e da Casa do Benfica em Resende. Foi vereador da Câmara Municipal de Resende, eleito nas listas do Partido Socialista, entre Outubro 2009 e Setembro 2017. Atualmente é membro da Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda.

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