Existem vários pontos de vista para o desenho onde se materializa o Humano e o seu ambiente. Os que suspiram em ambiente urbano, inspiram poluentes e expiram esperanças perdidas por sucessos materiais – quem procurar a forma de atuação de um rico, descobrirá que ele investe os seus rendimentos em vez de consumir; são urbanistas aqueles que abominam as medidas ambientais, privilegiados em busca de recompensas nas suas estratégias diárias ambiciosas, opostos a Saramago que abriu os olhos para o Humano só para enxergar “quem quer ser cego, sê-lo-á”. O Humano prospera ou perde-se no seu ambiente íntimo: o intelectual é feliz entre todos aqueles que aspiram as mesmas vontades, mas, tal como Nietzsche, descobre-se a corrupção dos jovens quando se ensina a abominação daquele que pensa diferente; a sua casa e família dão-lhe raízes, tal como o homem descrito por Russell procura na mulher alguém que o glorifique pelas suas ideias e obras; decai em ambientes nocivos para o seu corpo, expondo-se a contaminantes e doenças, e riscos para a sua estrutura óssea, ambientes nocivos para a sua mente quando não consegue encontrar conhecimento para o que deseja, e também tóxicos para a sua alma quando o que sonha não é realizável entre estar preso a um destino impingido até ao estado de opressão, a diversos níveis, criado nele mesmo. De diversas formas, o Humano edifica os seus ambientes, tomando por certo as suas vontades e acredita que o supermercado lhe fornecerá sempre comida e água saudáveis que alimentem o seu corpo, enquanto está livre da agricultura e possui agora tempo para elevar a alma e instruir a sua mente culta. Mas há humanos desesperados por uma vacina – aquela que é demonizada por pseudocientistas caseiros – que os salve num mundo ainda a tentar desenvolver-se para o privilégio do passeio de fim de semana, o café da manhã e a reclamação livre perante o seu governo: há vários aspectos materiais, psicológicos e sociais omissos que sustentam estas três possibilidades pelas quais o Humano contempla os prazeres do mundo, mas não irei debruçar-me neste texto sobre eles, o foco é a atuação do Humano onde o mesmo prospera.
Um dos aspectos de influência humana na natureza é a mineração. Há milhares de anos atrás, diversos povos começaram a recolher minério à superfície para acidentalmente pertencerem à idade do bronze. Entre a cunhagem da primeira moeda e as primeiras ferramentas metalúrgicas de batalha campestre, até ao admirável mundo novo de realidades simuladas em computadores e dinheiro virtual, o Humano manifesta o seu habitat na tecnologia mineral. Tanto Yuval Harari com a narrativa do agricultor e o seu protector que lhe cobrava parte dos alimentos como pagamento pelo serviço de proteção, ou Bertrand Russell e a sua preocupação com a doença urbana que corta o cordão umbilical entre o Humano e a natureza, ambos acabam por concordar que uma sociedade antepassada de recolectores era mais feliz do que a sociedade de consumidores, mas não significa que com eles sofro de um idealismo, antes assumo as falhas que possuo. Vivemos acomodados com o petróleo. Existem prospecções de lítio em Portugal, mas não sabemos quem está com vontade de trabalhar na extração do mesmo. A Rio Tinto, uma das empresas que conseguiu obter permissão para explorar lítio em Portugal, tem um historial de problemas éticos com os seus funcionários, destruiu um local sagrado para os aborígenes na Austrália e tenta obter uma posição dominante em tudo o que é minério. Mas conseguiremos nós existir sem lítio? Ninguém faz protestos pelas gigantes plataformas de extração de petróleo no oceano altamente poluentes, em Angola, Venezuela, Brasil, porque todas elas estão bem distantes do mundo privilegiado o qual está bem alimentado para a grande marcha do protesto. Somos donos de computadores portáteis, câmaras, telemóveis, tudo criado com a revolução das baterias de lítio: somos contra a sua extração perto de nossa casa.
O ambiente é o filho bastardo da ética humana, aquele que, na verdade, sustenta todo o grande empreendimento moderno, mas que nunca é convidado para o círculo íntimo da corte. A sua mãe natureza é desprezada como amante do imperador, o cultivador de riquezas materiais, o conquistador de terras e animais, e ela mantém-se na sombra, esperançosa para o acordar do Humano perdido nos seus desejos insaciáveis, ansiosa pelo despertar do seu amor por ela. Descolonizar o pensamento de necessidades a que nos habituámos é um enorme peso psicológico para todos nós que somos privilegiados. Nenhum Humano está preparado para o choque com as suas certezas, o mesmo acontece ao admirarmos o abismo do nosso consumo e o mesmo devolve-nos um olhar que nos hipnotiza. Karl Marx não palestrava sobre a natureza enquanto forma de ativismo – e, por certo, dá muitas voltas na campa devido à sua tese de comando invertido no capitalismo (o povo é quem mais ordena o sistema financeiro), transformada em capas ditatoriais – no entanto, na modernidade actual, existe uma ridicularização de ambientalistas através da colocação do rótulo “Marxismo” – é fácil criar esta analogia porque defender o ambiente é uma ameaça ao conforto fornecido pelos dispositivos tão venerados religiosamente como aqueles que peregrinam para o edifício da Apple e esperam dias pela anunciação do último IPhone – mas o ambientalista não agregado a empresas que praticam “greenwashing”, sujeita-se diariamente ao linchamento público, pior ainda a morte, logo estará ele a lutar pelo seu conforto? Greta Thunberg é vítima de bullying nas redes sociais, apedrejada por um padre que a acusa de ser pecadora, de estar acima da lei por faltar à escola; os ambientalistas são falsos, nas palavras do economista Carlos Guimarães Pinto, porque pretendem salvar o ambiente através de políticas de decrescimento e perda de conforto – uma clara contradição, ao definir que o comportamento natural do Humano por encontrar o seu conforto está omisso na perversão do seu falso ambientalista, aquele que só pretende praticar um suicídio da sua fortuna num acto totalmente absurdo da sua existência – e ainda segundo este, o objectivo dos ambientalistas é reciclar ideologias assassinas; claro está, uma luta da classe pobre é um assassínio do poder instituído, a morte de pobres são danos colaterais para um bem maior; uma ditadura declama uma ideologia e a mesma torna-se ditatorial, porque, tal como a ideologia, cada um de nós é o que o outro nos define como tal, não temos qualquer individualismo para definirmo-nos de acordo com o que desejamos ser; sarcasmos à parte, ambientalismo, anticapitalismo e luta de classes são conceitos desprezados por Carlos Pinto: ambientalismo simboliza a perda de conforto, anticapitalismo simboliza a perda da acumulação monetária e a luta de classes simboliza a perda dos subordinados. Entre os que lincham a Greta e o padre virtuoso que a acusa de ser pecadora (o Papa Francisco já declarou o problema ambiental como algo a ser combatido com urgência), e o economista discípulo da teoria do crescimento infinito num planeta finito, derrotista da nossa salvação num ambiente cada vez mais instável, todos eles revelam a incapacidade para encontrar soluções e reforçam a tese de que Jesus Cristo era um miúdo mimado: lutou contra quem oprimia os seus semelhantes e pregou contra o aprisionamento de animais, confrontado os virtuosos do templo de Jerusalém, numa busca ética absurda para a sua própria sobrevivência.
Carlos Pinto por certo seria organizador de um manifesto contra prospecção de lítio e petróleo no quintal da sua casa, caso não tivesse mais nenhum sítio onde morar, ele se transformaria no seu lado sombra (o falso ambientalista) quando os seus interesses estivessem ameaçados. O método de Carlos Pinto para proteger o ambiente, é uma dicotomia entre o falso ambientalista e o verdadeiro; a “reciclagem de domingo” que o poluidor faz ao limpar a sua casa e jardim – como a limpeza de pecados através do acto de assistir à missa – tal como os fundos para ações de “greewashing” lavam a cara de grandes industrias poluentes, todos estes actos são suficientes para manifestar um verdadeiro ambientalista de Carlos Pinto isento de ideologias sanguinárias, mas claramente a favor do sistema vigente: quem recupera a visão descrita pelo ensaio de Saramago, materializa-se no seu olhar, como as flores da primavera a florir, a capacidade de enxergar a corrupção como um acto de obter poder e o corruptível como aquele que está ansioso por receber dinheiro. Ver a verdade num mundo de desinformação, é estar consciente de e para onde o dinheiro flui – levantar questões éticas no consumo é suscitar raiva em quem tem poder, em quem está confortável.
Tentar mudar os poderosos é uma perda de tempo, o que está em causa é como actuar num mundo de aparências, como aqueles que praticam a cultura do cancelamento não possuírem empatia pela vítima, apenas um desejo profundo de se apresentarem virtuosos para o mundo. O que tenta usar copos de papel é motivo de risada por quem vê neste acto uma continuação do desgaste natural, não como preocupação pelo ambiente, mas antes o cultivo da desgraça, no entanto ignora-se o peso do plástico na degradação do mundo (tal como a gasolina, o plástico necessita de petróleo). Uma bateria de um veículo Tesla necessita de 19 litros de lítio para 10 anos de garantia, no meu carro, 19 litros é o consumo de uma semana a deslocar-me para o trabalho (quantos litros por semana o mundo utiliza neste ciclo semanal perpétuo?) – os estudos tendenciosos para a poluição de um veículo elétrico ignoram convenientemente a poluição da extração do petróleo, do seu transporte marítimo e terrestre, os gases emitidos na refinação e electricidade consumida nesse processo e a própria electricidade consumida pelo bombear combustível na estação para o depósito; segundo a empresa Northvolt da Suécia, a mesma promete agora a capacidade de reciclar baterias – ninguém está à espera de uma reciclagem da gasolina consumida – o santo graal da energia é a recuperação da energia gasta – logo é mais fácil controlar a reciclagem de uma bateria do que a refinação contínua da gasolina, tal como é mais fácil legislar na União Europeia sobre normas de conducta numa mina em Portugal – como diz o ditado político, os EUA criam, a China copia e a UE legisla – do que esperar consumir petróleo eticamente extraído. Mais uma vez, deverei estar a ser erradamente interpretado como sendo a favor da mineração, não sou, apenas coloco o meu idealista de lado e abraço o realismo: vivo num mundo onde inconscientemente não me liberto da prisão do consumo, logo tudo o que posso realizar enquanto simples plebeu é diminuir o meu impacto naquilo que consumo. O meu impacto a utilizar um veículo com uma bateria de lítio é bem menor do que consumir gasolina, ficando ainda menor com a possibilidade da reciclagem da bateria.
Abandono agora o que é a troca dos bens de consumo por uns menos poluentes e torno-me por vontade própria o falso ambientalista mencionado por Carlos Pinto: proponho a queda do Humano para os antepassados recolectores, tribos de índios felizes no seu convívio, sem impostos, burocracias e telefonemas do patrão fora das horas de caça; terei de acrescentar que o meu objectivo é uma ideologia sanguinária, perseguindo cruelmente todos os que vivam em capitalismo. Em ambiente urbano, há novas formas de mobilidade onde nem é necessário que cada um de nós possua um automóvel (o desemprego gerado por ausência de produção não é para aqui chamado), a União Europeia está a realizar esforços para que dispositivos eletrónicos sejam reparáveis (os religiosos que anseiam um novo IPhone serão proibidos da sua prática religiosa), a diminuição do consumo de carne reduz mais emissões do que não possuir um automóvel (a ditadura aplicada ao nosso paladar), evitar viagens aéreas devido ao enorme consumo de combustível de uma simples viagem em espaço europeu (impedem-nos de gozar férias fora do nosso país) e uma nova forma de cultivo alimentar – agrofloresta e permacultura – permite a regeneração dos solos e impede os chamados agrotóxicos (segundo alguém que pertence à gestão florestal, foram os agrotóxicos que impulsionaram a alimentação da população e sem eles não é possível ter matéria orgânica para produzir fertilizantes biológicos). Todas as opiniões externas à minha pessoa que coloquei anteriormente entre parêntesis, são os dogmas que diariamente assassinam humanos ao serem permissivos a emissões de dióxido de nitrogénio em excesso, que levam povos inteiros em países subdesenvolvidos à escassez de alimento e água e coloca muitos em hospitais para quimioterapias devido ao que ingerem diariamente. A minha ideologia sanguinária mata muitos rendimentos financeiros.
Por fim, indivíduos como Elon Musk e Jeff Bezos não realizam corridas em naves espaciais para medirem quem tem a nave maior (no fundo é o real motivo devido à suposta forma fálica da nave, mas existe uma benfeitoria latente superior), estão cientes de que a Terra está em total colapso e sem soluções à vista para uma espécie viciada em consumo, logo o ideal é planear a fuga de alguns privilegiados para uma colónia espacial (eu e o leitor provavelmente nem estaremos incluídos). Tal como há indivíduos estudiosos da terra plana e “chips” nas vacinas, há também muitos entendidos do clima e declaram que o mesmo muda naturalmente e não é culpa do Humano – o objectivo máximo da tecnologia de tornar a nossa espécie mais resiliente contra o lado negro da natureza, tentando mitigar a mudança natural do clima, é convenientemente ignorado quando se pretende colocar em cima da mesa uma ideologia sanguinária de povos e animais, só para manter a doença mental do crescimento dos mercados financeiros, incentivando a falácia do reducionismo causal por forma a dividir e conquistar os dissidentes contra a classe dominante. As ditaduras com capas comunistas, assassinaram muitos humanos e animais, as que ainda existem nem respeitam Marx ao fornecerem as melhores condições de trabalho de toda a história da humanidade ao seu povo; os falsos ambientalistas de Carlos Pinto morrem diariamente na América do Sul, África e ilhas asiáticas como a Indonésia, lutando para a preservação das florestas tropicais, dos rios e dos oceanos, assassinados por companhias privadas (a empresa Vale no Brasil não só assassinou deliberadamente quem foi apanhado pela enxurrada de duas barragens que ruíram, como também assassinou ambientalistas que protestaram antes da mesma ruir para que medidas fossem tomadas); diamantes de sangue, crianças a apanhar bananas e sementes de cacau, agricultores mal pagos que alimentam não só a nossa boca como geram os bens que servem para negociação em bolsa e que enchem os bolsos de especuladores e intermediários, todos eles são danos colaterais de uma civilização em progresso, tal como todos os escravos dos tempos coloniais criaram as condições materiais necessárias para a revolução industrial. O utilitarismo matou, e mata, de forma escondida, enquanto todos nós privilegiados vivemos em ambientes edificados livremente nas nossas decisões manipuladas por propagandas subtis. A COP26 simulou uma discussão séria, o povo mantém o seu conforto e a civilização roda mais uma vez nas flutuações de mercado e na meritocracia competitiva. O Humano continua a preservar o seu ambiente nocivo, tudo está bem.
Esta Greta: https://sol.sapo.pt/artigo/752993/esta-greta-
Utilitarismo: https://pt.wikipedia.org/wiki/Utilitarismo
Falsos ambientalistas: https://www.jn.pt/opiniao/carlos-guimaraes/como-identificar-um-falso-ambientalista-14320821.html
Nasci, cresci e vivo nos planaltos de Vila Maior, São Pedro do Sul, distrito de Viseu com vista privilegiada para diversas cordilheiras montanhosas. Comecei a escrever poesia em 2005 como forma de escapar à realidade pesada da minha timidez. A natureza, o primeiro fogo da paixão e a necessidade de exprimir injustiças sociais despertaram a minha mão esquerda a escrever como se a minha existência dependesse de tal ação. Enquanto adulto, comecei por trabalhar muito cedo, fui pai muito novo e de todo um tumulto social renasce uma paixão: pensar sobre o que me rodeia, mas em vez de definhar decidi filosofar e nunca mais parei até hoje. Nasceram dois livros de poesia, “Mente (des)Concertante” por parte da editora Poesia Fã Clube e “O Fluxo da Vida” editado na plataforma Amazon. Só mais tarde, licenciei-me em Engenharia Informática pelo Politécnico de Viseu em 2017. Atualmente entre programar computadores e linguagem humana para conseguir alcançar uma transformação social pela filosofia, sou pai, marido, filho e agricultor como forma de alimentar corpo e alma. Estou pela primeira vez a romper a minha timidez e a expor-me nos meios de comunicação social e em comunidades literárias.