Na Assembleia Municipal (AM) de 20 de dezembro o Bloco de Esquerda apresentou uma moção contra a Exploração Mineira no Concelho da Guarda, sendo que a mesma foi aprovada. Aqui garantiu-se que tanto este executivo (como os futuros) não aprovará ou apoiará nenhum projeto que ponha em causa a população residente, nem a fauna ou flora autóctone.
Uns dias antes a Câmara Municipal (CM) da Guarda já tinha emitido um parecer desfavorável em relação ao Relatório de Avaliação Ambiental Preliminar do Programa de Prospeção e Pesquisa de Lítio no concelho. A justificação que conta no parecer foi a de que esta intervenção em áreas rurais e territórios do interior iria contribuir para a “degradação ambiental, com a perda de vegetação e biodiversidade em todas as áreas envolventes, causando danos e poluição dos recursos hídricos, contaminação dos solos, poluição do ar, poluição sonora, perda de biodiversidade, entre outras”. Ora, conseguimos perceber aqui que o impacto ambiental seria muito maior do que qualquer projeto de pesquisa ou extração no interior. Afinal estamos a falar de pessoas e do seu direito a uma vida digna e em condições, e da preservação da biodiversidade, fauna e flora destes territórios.
Porém, na passada AM, a 25 de fevereiro, o Presidente da Câmara diz-nos que até se poderia admitir um local no concelho onde existisse de facto a prospeção de lítio e que esta fosse inclusive em grande escala, mas que para isso seria necessário o diálogo com as CM. Pois bem, isto faz-nos questionar se não eram então as questões ambientais que preocupavam realmente os nossos autarcas, ou se afinal de trata apenas de uma questão de capital. Pensando bem, somos ou não a favor da prospeção de lítio no nosso território? Ou foram apenas promessas vagas?
Desta forma, volto aqui a relembrar o porquê de ser importante ter uma narrativa coesa no que toca a combater a ideia de que o lítio é essencial para a transição energética e para a descarbonização. A verdade é que esta filosofia apenas serve para aumentar a existência de projetos de minas a céu aberto, em que o lítio é apenas uma pequena fatia do bolo, pois outros minerais são explorados, como é o caso do urânio, estanho, volfrâmio, etc. As minas comprometem o desenvolvimento sustentável das nossas regiões, já que afeta todos os ecossistemas, contaminando o ar e provocando problemas respiratórios. Verifica-se também a contaminação dos solos e das águas. A água é utilizada para o consumo humano, para a agricultura e na alimentação da pecuária, e estando a mesma imprópria e poluída faz com que a sua utilização seja impossível. Tanto a saúde das pessoas que moram nestes territórios, como da biodiversidade que ali existe sofrem de forma negativa com um capitalismo que, mais uma vez, não olha a meios para atingir os seus fins.
Em suma, referir que estamos de acordo quando se diz que todo o processo da exploração, pesquisa e prospeção de lítio é opaca e em nada participada, nem pelas comunidades que são diretamente afetadas por ela, nem pelas autarquias, mas o Bloco de Esquerda assume uma posição clara quando falamos sobre este tema. Afirmamo-nos contra a qualquer exploração que ponham em causa as populações, a biodiversidade e reservas de água, que tanta falta nos fazem especialmente no tempo que vivemos. Sejam estas em pequena ou grande escala, dizemos um não claro ao atentado ambiental que querem causar no nosso interior.
Beatriz Realinho, de 21 anos, natural da Guarda. Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa. Está no mestrado em Estudo sobre as Mulheres: As Mulheres na Sociedade e na Cultura, na mesma instituição.
Faz parte de diversos movimentos e coletivos sociais, ambientais, LGBTQIAP+ e Feministas, sendo coautora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”.