O capitalismo é também ele fonte das opressões de género vividas, sendo que estas se acentuam quando o capital se une ao patriarcado. O capital pode não ter sido o responsável pela subordinação das mulheres, comunidades racializadas, pessoas queer e trans, pois esta submissão já existia em outros moldes de sociedades anteriores, mas trouxe consigo novas formas de sexismo e violências, que nascem com o aparecimento de diferentes estruturas institucionais que controlam o poder.
É por esta razão que a luta feminista tem que ser assumidamente anticapitalista, pois o capital continua a recusar-se a sacrificar o bem-estar da maioria para lutar por aqueles que se encontram mais vulneráveis: mulheres pobres e precárias, racializadas e migrantes, pessoas queer e trans, mulheres portadoras de deficiência. O neoliberalismo que temos vindo a ver crescer ao longo dos últimos tempos traz consigo outras novas formas de opressões de género, não sendo por isso o feminismo liberal uma solução real para os problemas e violências que a pessoa comum sofre, e que vê os seus direitos reprimidos.
Quando falamos de questões concretas temos que olhar para o seu todo e não apenas para uma parte em si, isso acontece na luta por salários iguais. Ora, não podemos apenas exigir por uma igualdade nos salários quando muitos destes já são precários à partida, e estaríamos então apenas a lutar pela igualdade na miséria e na precariedade. Aliada a esta bandeira do movimento feminista têm que existir exigências sobre salários adequados, direitos laborais, um reconhecimento do trabalho doméstico e o estatuto de cuidadoras informais.
Outro ponto importante são as leis que criminalizam a violência de género, serão estas suficientes? Não quando continuam a ignorar os problemas de base, o racismo estrutural da nossa sociedade, a brutalidade policial quando a vítima faz queixa, o assédio moral e físico tanto nas ruas como no trabalho. A criminalização desta violência será vazia se não existirem políticas públicas com investimento em serviços públicos, como é a saúde, principalmente na questão do aborto. Este tem que ser acessível a todas as pessoas com útero, e não apenas àquelas com grande poder económico que podem recorrer ao privado para realizar a intervenção. É necessária uma habitação social com condições e apoios para o acesso à mesma, assim como um financiamento que ajude mulheres que se vêm obrigadas a abandonar as suas casas e as suas vidas em contexto de violência doméstica.
É por todas estas razões (e não só) que no 8 de março iremos sair à rua, lado a lado, a mostrar que não estamos submissas à opressão a que somos sujeitas todos os dias, a lutar por todas, todos e todes que infelizmente já não têm voz. Iremos mostrar que o feminismo faz falta e que este apenas pode ser interseccional, onde todas as vozes contam e todas as lutas se unem.
Beatriz Realinho, de 21 anos, natural da Guarda. Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa. Está no mestrado em Estudo sobre as Mulheres: As Mulheres na Sociedade e na Cultura, na mesma instituição.
Faz parte de diversos movimentos e coletivos sociais, ambientais, LGBTQIAP+ e Feministas, sendo coautora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”.