Celebram-se os 60 anos daquele que é o Movimento Estudantil, que tem origem nas ações reivindicativas dos e das estudantes contra o Regime do Estado Novo, sendo importante relembrar todas e todos que ao desafiarem as normas lutavam pela liberdade. O que hoje para nós é sair à rua em ato de protesto como algo normalizado, naquela altura fazê-lo era um autêntico ato heróico, uma vez que muitos destes estudantes eram presos ou até mesmo assassinados. A maior homenagem que lhes podemos prestar é a de continuarmos a manifestar-nos enquanto estudantes que somos, e por todo o caminho que ainda falta fazer.
Nos últimos tempos temos vindo a reparar num aumento daquilo que é uma espécie de mercantilização dos jovens defendendo-se a ideia daquilo que é a iniciativa individual do self made man e da self made woman, tentando-se afastar uma ideia de associativismo coletivo que luta por todas e por todos. Esta ótima de apelo ao individualismo começa grande parte dela precisamente no ensino, uma vez que somos desde muito novas empurradas a lutar por nós mesmas de forma egoísta e individual. Assim que ingressamos no ensino superior somos confrontadas com a ideia de empreendedorismo, e aquilo que este representa, o mundo empresarial, valorizando-se a rede de contactos que se vai criando e o protagonismo (ser-se o melhor dos melhores). Contudo, esta elitização não serve o verdadeiro português comum: o trabalhador e o jovem precário.
Assim sendo, percebemos que após estes 60 anos ainda falta um longo caminho a percorrer para que o ensino possa ser realmente público, democrático e livre. As reivindicações dos e das estudantes passam por um ensino superior progressivamente gratuito, com o fim das propinas tanto nas licenciaturas como nos mestrados. Lutamos por melhores condições e qualidade de infraestruturas em todos os níveis de ensino, desde o básico até ao secundário e ensino superior. Exigimos um reforço e desenvolvimento de um plano nacional de saúde mental, tanto para alunos do secundário como do superior, sendo aqui necessário investimento de modo que existam mais profissionais que consigam dar resposta à comunidade estudantil, assim como na gratuitidade das consultas. A descolonização dos currículos é uma reivindicação fundamental, pois combate o racismo e xenofobia estrutural que existe ainda nos nossos espaços de ensino. Daqui combatemos também o machismo e a homofobia que continua a ter lugar naquelas que deviam ser as nossas segundas casas e onde nos formamos enquanto pessoas.
Para além de todas estas importantes exigências o movimento estudantil tem que passar também pelo interior, lutando pela descentralização do Ensino Superior, promovendo um desenvolvimento desta região (assim como de outras que continuam esquecidas pelas políticas que nos governam). Iríamos combater assim a desertificação e o abandono, possibilitando uma maior coesão territorial. É necessário o investimento nas universidades e institutos politécnicos do país que não se concentram apenas nas grandes cidades do litoral, reforçando-se o número de vagas e os mecanismos dirigidos aos jovens que tenham como finalidade a fixação dos mesmos no interior.
A educação é um direito, e abril abriu portas para que este fosse democrático, inclusivo e público para todas e todos, não deixemos morrer esta luta, que nos façamos ouvir enquanto estudantes, jovens, precárias, e defensoras da liberdade em toda a sua plenitude.
Beatriz Realinho, de 21 anos, natural da Guarda. Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa. Está no mestrado em Estudo sobre as Mulheres: As Mulheres na Sociedade e na Cultura, na mesma instituição.
Faz parte de diversos movimentos e coletivos sociais, ambientais, LGBTQIAP+ e Feministas, sendo coautora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”.