O preconceito mutila emocionalmente, fere psicologicamente e, tantas vezes, mata fisicamente. Sentir que o simples facto de existir é um algo quase maléfico enraíza-se na mente, polui o coração e dilui o sentido do eu como ser humano, reduzindo-o a uma mera característica como se fosse um todo. Nada mais importa, nenhuma característica positiva, acto grandioso, sentimento ou até o facto de se ser um ser humano… A existência de alguém resume-se a um único facto e esse facto é razão de ódio. Pode ser pela cor da nossa pele, orientação sexual, nacionalidade, religião, a forma de vestir… Tudo é pretexto para odiar.
A verdade é que o preconceito fala mais de quem o pratica do que do seu destinatário. Quando se tem o coração repleto de ódio, rancor e negatividade, as atitudes serão o seu reflexo.
Em pleno século XXI ainda se trata um ser humano de forma diferente porque é diferente e para mim isso é incompreensível. E, infelizmente, o ódio está cada vez mais presente no nosso dia a dia, tornando-se legitimado quando existem indivíduos com grande visibilidade que reiteram esse sentimento, apontando as diferenças sem se preocupar com as repercussões.
Todos somos diferentes, únicos. Haverão sempre diferenças e cabe-nos a nós decidir o que pretendemos ser. Tal como Martin Luther King, “eu decidi ficar com o amor. O ódio é um fardo muito grande para se carregar”.
Este ódio pelo que é diferente causa danos, inflige feridas que nunca realmente cicatrizam e tira a vida. O caso que mais me chocou foi o da Gisberta Salce Júnior, que em 2006 perdeu a vida em nome do ódio, do preconceito, da ignorância. Que o seu nome nunca seja esquecido, que a sua dor nunca seja ignorada, que a sua história sirva de exemplo das consequências do ódio e que a tristeza e horror que esta alma teve de passar, aqueça os corações frios e desperte consciências.
O ódio só atrai mais ódio, mais escuridão e da mesma forma que só a luz pode combater a escuridão, só o amor pode combater o ódio. Enquanto houver ódio entre ser humanos, enquanto as lágrimas, e tantas vezes, o sangue do nosso semelhante não for razão suficiente para acender a chama da luz dentro de nós, iremos continuar num caminho que só terá um desfecho: a vitória do ódio e a derrota da nossa humanidade.
Não há citação que melhor descreva o que sinto cada vez que ódio, que o preconceito vence, que a de uma das personagens do filme “The Green Mile”: “Estou cansado; principalmente de ver as pessoas a serem tão más umas para as outras”.
Elisabete Frade/Shenhua
Nasceu em Évora em 1981 e desde então passou por Arraiolos, Mem-Martins, Coimbra, Lisboa e Viseu.
Tirou um curso profissional de Turismo, um curso de Inglês para Empresas e uma Licenciatura em Relações Internacionais, especializando-se em Estudos Europeus, estagiando na Câmara do Comércio da Itália.
Morou quase uma década na Holanda, trabalhando numa empresa internacional organizadora de conferências para empresas e, mais tarde, na área da tradução para empresas internacionais e privados, tendo ido viver para a Escócia.
Regressou a Portugal e desde então é a cuidadora informal da sua mãe idosa.